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Estudo revela possível caminho para tratar déficits respiratórios no Parkinson

Pesquisa do ICB-USP identifica relação entre falhas respiratórias e sono e aponta estimulação cerebral seletiva como alternativa promissora.


Pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da USP (ICB-USP) descobriram um possível caminho para tratar déficits respiratórios em pacientes com Doença de Parkinson – um sintoma pouco estudado, mas que pode levar a complicações graves, como pneumonia, uma das principais causas de óbito nesses pacientes. Embora as dificuldades motoras sejam as manifestações mais conhecidas da doença, a pesquisa revelou que problemas respiratórios também ocorrem, especialmente durante o sono – que ainda não possui um tratamento eficaz. O estudo, publicado na revista iScience, mostrou que a estimulação seletiva de um núcleo cerebral foi capaz de reverter essas falhas respiratórias em camundongos, apontando para novas possibilidades terapêuticas.

 

“As complicações respiratórias no Parkinson geralmente surgem em estágios mais avançados da doença e, por isso, são menos exploradas. Mas elas têm um impacto significativo na qualidade de vida e na sobrevida dos pacientes”, explica a professora Ana Carolina Takakura, coordenadora do estudo. “Nosso objetivo foi entender quando essas alterações acontecem e se há uma forma de revertê-las. Descobrimos que elas ocorrem exclusivamente durante o sono, e conseguimos restaurar a função respiratória nos camundongos estimulando seletivamente um grupo específico de neurônios.”

 

Coordenado pela professora Takakura, do Departamento de Farmacologia do ICB-USP, o Laboratório Controle Neural Cardiorrespiratório dedica-se há mais de 10 anos ao estudo de problemas respiratórios causados pelo Parkinson. Sua prevalência está relacionada com os casos de pneumonia, uma das principais causas de óbito de pacientes. “Minha formação, desde o doutorado, tem sido voltada para o controle neural da respiração. Quando comecei a estudar o Parkinson, minha pergunta fundamental era: será que, além das regiões do cérebro responsáveis pelos movimentos, as áreas que controlam a respiração também se degeneram?”, explica a pesquisadora.

 

Ao longo dos anos, os resultados mostraram que sim: em animais — ratos e camundongos — submetidos ao modelo experimental da doença, há uma redução na frequência respiratória, além da degeneração de alguns núcleos específicos que controlam a respiração. O grande avanço do novo estudo, liderado pela pesquisadora Nicole Miranda, foi observar a relação de tudo isso com o sono.

 

“Apneias respiratórias são uma consequência comum da Doença de Parkinson: afetam, junto de outras alterações no sono, cerca de 70% dos pacientes. E, apesar de serem classificadas dentro de estudos do sono, as apneias também são um problema respiratório”, explica Takakura. Foi dessa intersecção, notada por Miranda durante seu doutorado, que surgiu a ideia de investigar se as alterações respiratórias observadas nos estudos anteriores possuíam alguma relação com o ciclo de sono. Antes, não se sabia se as mudanças na respiração aconteciam quando o animal estava acordado ou dormindo. Os camundongos estudados podiam dormir durante os registros, mas esse fator não era monitorado diretamente. “Foi algo que nunca havíamos medido antes. Com os novos experimentos, conseguimos finalmente estabelecer essa relação, o que abriu uma nova perspectiva para os estudos”, diz Takakura.

 

O primeiro passo de Miranda foi mapear, por meio de eletroencefalogramas e eletromiografias, as fases de sono dos camundongos e, paralelamente, observar a respiração dos animais. O estudo diferenciou as fases de sono R.E.M (movimento rápido dos olhos) e não R.E.M, que têm características distintas em termos de atividade cerebral e tônus muscular. O que foi constatado é que as alterações na respiração observadas em estudos anteriores não só eram mais expressivas durante o sono, como aconteciam exclusivamente nesse estado. Além disso, foi analisada a quantidade de episódios de apneia, que também foi maior enquanto os animais dormiam.

 

Com essa informação em mãos, buscou-se investigar possibilidades terapêuticas por meio do estímulo seletivo de algum núcleo do cérebro. “Escolhemos o núcleo tegmental látero-dorsal, também chamado de LDT, por ser um núcleo conhecido por sua correlação forte tanto com o sono quanto com a Doença de Parkinson e que, além disso, também se projeta para as regiões respiratórias”, explica a professora.

 

Para realizar esse estímulo, foi injetado um vírus no núcleo LDT, fazendo com que os neurônios desejados dessa região passassem a expressar um receptor — ou seja, deixando-os “capazes de serem estimulados seletivamente”. Depois, foi aplicado um fármaco, capaz de se ligar exclusivamente ao receptor e que foi responsável por provocar os estímulos nesses neurônios. Dessa forma, as alterações respiratórias foram revertidas, bem como o aumento na quantidade de apneias. “O núcleo LDT também sofre perda de neurônios devido à Doença de Parkinson, mas vimos que mesmo o estímulo dos neurônios restantes foi suficiente para tratar problemas respiratórios”, diz Takakura.

 

Denominado quimiogenética, o método ainda é pouco acessível e restrito às pesquisas clínicas, mas pode ser uma possibilidade futura para tratamentos. Segundo a professora, existem, atualmente, outras possibilidades terapêuticas de estímulo cerebral, mas que afetam regiões inteiras e não apenas tipos de neurônios específicos. “Não sabemos se uma estimulação geral teria o mesmo efeito, é algo a ser investigado. De qualquer forma, a estimulação seletiva é sempre melhor, pois elimina efeitos adversos. Existem estudos trabalhando para viabilizar uma estimulação seletiva, e quando isso acontecer, será um grande passo para o tratamento dos sintomas do Parkinson.” Ela ainda aponta que o metabólito clozapina-N-oxide (CNO), que é gerado a partir de uma substância injetada e atua ativando seletivamente os neurônios modificados no experimento, ainda precisa ser melhor estudado quanto à segurança e eficácia em humanos.

 

Hoje, um dos tratamentos para o Parkinson é a estimulação cerebral profunda, utilizada para melhorar os sintomas motores da doença. No entanto, essa abordagem não trata diretamente as alterações respiratórias, que continuam sem uma solução terapêutica eficaz.

 

Para o futuro, Takakura pretende caracterizar as alterações de sono em humanos, em uma parceria com o Instituto do Coração (InCor) e com o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP).

 

Felipe Parlato | Acadêmica Agência de Comunicação

17/03/25
Estudo internacional com participação do ICB-USP testa nova abordagem com potencial para controle de vetores de doenças

O trabalho, baseado em tecnologia CRISPR, apresenta um sistema genético capaz de reverter uma determinada característica e cujo impacto ecológico é dissipado naturalmente.


Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade da Califórnia em San Diego (UCSD), em colaboração com um professor do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), apresentou um sistema inovador de edição genética baseado em tecnologia CRISPR. Os pesquisadores foram capazes de reverter a resistência a inseticidas em populações de moscas da espécie Drosophila melanogaster, popularmente conhecidas como moscas-da-fruta. A tecnologia tem potencial aplicação no controle de vetores de doenças infecciosas e pragas agrícolas. O estudo foi publicado na Nature Communications, do Grupo Nature. 

 

A ferramenta utilizada, chamada gene-drive system (sistema de impulso genético), atua favorecendo a propagação de um gene específico em uma população-alvo. No experimento, o sistema foi programado para identificar e substituir o trecho do DNA associado à resistência a inseticidas. “O gene-drive reconhece e rompe uma determinada região do DNA que contém uma informação indesejada. Através dos mecanismos naturais de reparação celular, o DNA pode recompor-se copiando uma outra informação que pretende propagar. Este é o mecanismo utilizado para reverter a resistência a inseticidas em populações de insetos”, explica Rodrigo Corder, professor do Departamento de Parasitologia do ICB-USP e um dos colaboradores do estudo. 

 

A vantagem do gene-drive está no seu padrão de transmissão genética. Em condições naturais, uma herança mendeliana determina que 50% da prole herde um gene específico. Com o gene-drive, esse número pode subir para quase 100%, o que acelera a disseminação da característica desejada na população-alvo. “Uma pequena quantidade de indivíduos modificados pode, ao longo de algumas gerações, alterar geneticamente toda uma população. Isso torna a técnica uma alternativa promissora para o controle vetorial de doenças infecciosas e para o manejo de resistência a inseticidas em insetos agrícolas, por exemplo”, afirma o pesquisador.

 

Um dos diferenciais desta pesquisa está no impacto ecológico reduzido do método. Estudos anteriores utilizando gene-drive já haviam conseguido disseminar genes em populações de insetos, mas as alterações genéticas permaneciam indefinidamente nas populações estudadas. Neste novo estudo, os pesquisadores aprimoraram o sistema genético de forma que, além de reverter a resistência aos inseticidas, as outras alterações genéticas introduzidas desaparecem naturalmente ao longo do tempo. 

 

“Em nossa aplicação, isso ocorre porque as fêmeas das Drosophila apresentaram uma preferência reprodutiva por machos não mutantes, fazendo com que a população volte gradualmente ao estado original após reversão da resistência aos inseticidas. Ou seja, os componentes genéticos introduzidos e responsáveis pelo espalhamento da característica desejável (proteína Cas9 e RNA guia) são eliminados naturalmente ao longo das gerações. Esse comportamento tende a minimizar o impacto ecológico da aplicação, uma vez que as mutações introduzidas são transitórias”, explica Corder.

 

O estudo foi liderado pelo professor Ethan Bier, da UC San Diego, e tem como primeiro autor o pesquisador Ankush Auradkar. A colaboração de Corder e Bier teve início durante o pós-doutorado de Corder na Universidade da Califórnia, Berkeley, sob supervisão do professor John Marshall. Desde então, Corder e Marshall colaboram com o componente de modelagem matemática para prever a dinâmica de espalhamento dessas características genéticas nas populações de insetos estudadas. “A modelagem matemática tem um papel essencial para compreender como essas modificações genéticas se propagam ao longo do tempo e avaliar sua viabilidade antes de possíveis aplicações em ambientes naturais”, acrescenta.

 

Embora o foco desta pesquisa tenha sido a resistência a inseticidas em drosófilas, estudos anteriores já demonstraram o potencial do gene-drive para controle de vetores de doenças como a malária, reduzindo sua capacidade de transmissão do parasita. A pesquisa já despertou interesse internacional e foi destacada, por exemplo, pela emissora KPBS nos Estados Unidos, evidenciando sua relevância para a comunidade científica global. O estudo contribui para a construção de estratégias de controle vetorial mais seguras e eficientes, abrindo caminho para novas aplicações no combate a doenças como dengue, malária e outras infecções transmitidas por insetos.

 

Felipe Parlato | Acadêmica Agência de Comunicação

11/03/25
ICB-USP concede título de Professor Emérito a Paulo Alexandre Abrahamsohn

O evento contou com a presença de figuras ilustres da USP e do ICB, além de ser marcado por homenagens que emocionaram Abrahamsohn.


Na última sexta-feira (21/02), o Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) realizou a cerimônia de outorga do título de Professor Emérito a Paulo Alexandre Abrahamsohn. Conheça mais sobre a carreira do docente aqui. O evento ocorreu no Auditório Luiz Rachid Trabulsi, no Edifício Biomédicas 3.

 

Compuseram a mesa da cerimônia os professores Paulo Alexandre Abrahamsohn, a diretora do ICB, Patricia Gama, Aluisio Augusto Cotrim Segurado, pró-reitor de Graduação da USP, Chao Yun Irene Yan, chefe do Departamento de Biologia Celular e do Desenvolvimento (BCD) do ICB, e Estela Maris Andrade Forell Bevilacqua, professora Titular do BCD-ICB.  

 

As boas-vindas da Mestre de Cerimônias Katia Melo e a entrada dos membros da mesa marcaram o início do evento. A profa. dra. Estela Maris Andrade Forell Bevilacqua foi a responsável por conduzir Abrahamsohn à mesa. A abertura oficial da cerimônia foi realizada pela diretora do ICB-USP. A Assistente Técnica Acadêmica do ICB-USP Marília Pereira de Oliveira fez a leitura do termo de outorga do título de Professor Emérito ao Professor Paulo Alexandre Abrahamsohn. 

 

Em nome da Congregação do ICB, a professora Estela Maris proferiu a saudação a Abrahamsohn. Ela explicou a origem, que remonta à Idade Média, do título de Professor Emérito. “Essa não é uma honraria concedida por causa de discursos, mas sim por razão das ações do docente”, afirmou. A professora recapitulou a trajetória de vida de Abrahamsohn, abordando suas contribuições científicas e seu legado profissional e pessoal. Ela destacou o protagonismo do homenageado na construção dos edifícios que compõem o setor das Biomédicas e o fato de ser um dos primeiros pesquisadores a defender um doutorado no Instituto, em 1971. 

 

Emocionada, a professora finalizou seu discurso agradecendo a Abrahamsohn: “Paulo, talvez minha reflexão sobre os seus caminhos percorridos não esteja completa, mas espero ter destacado a sua dedicação ao trabalho, à profissão e à arte de ensinar e de aprender. Afinal, não é à toa que a palavra aposentadoria tem a mesma quantidade de letras que agradecimento”.

 

Em seguida, a professora Patricia Gama entregou o diploma de Professor Emérito a Abrahamsohn, que foi ovacionado pelos presentes. Em seu discurso, Abrahamsohn agradeceu pela concessão do Título, pelas palavras gentis proferidas por seus colegas, pela presença de todos “neste que foi um dos momentos mais marcantes de minha vida e, principalmente, pelo apoio incondicional de minha esposa Ises de Almeida Abrahamsohn”, que é também professora aposentada Sênior do ICB-USP. 

 

“Não quero fazer um discurso, mas sim contar uma breve história da minha vida que se mistura com a trajetória do ICB-USP”, disse, em tom humorado, o agora Professor Emérito. Ele relatou sobre seu início na vida acadêmica, quando ingressou na Faculdade de Medicina da USP, passando pela descoberta do seu interesse pela Histologia, e quando se tornou docente do IBC-USP, durante a Reforma Universitária de 1968. Ao finalizar, emocionado, disse que “essa é uma história com final feliz: cheguei à conclusão de que a transferência gradativa dos docentes e funcionários técnicos administrativos [durante a Reforma Universitária], – antes espalhados pela cidade de São Paulo, para o prédio do ICB-USP foi fundamental para consolidação do nosso Instituto”.

 

A diretora do ICB, em seu discurso, abordou a importância de Abrahamsohn para formação e manutenção do ICB, além do esforço do professor em preservar sua memória por meio da criação de um museu no BCD e da produção do livro sobre os 55 anos do Instituto. “Todas as vezes em que nós tínhamos situações de divergência no Instituto, o professor Paulo tinha um papel extremamente importante de trazer de volta a harmonia”, lembrou Patrícia Gama. “É esse papel que queremos que ele continue mantendo e trabalhando conosco, por isso é uma honra ter o professor Paulo na galeria dos nossos Professores Eméritos”, finalizou a diretora.

 

O pró-reitor de Graduação, Aluisio Augusto Cotrim Segurado, iniciou sua fala entregando a Abrahamsohn os cumprimentos da Reitoria. Como egresso do curso de Medicina, ele comentou sobre a importância do ICB no acolhimento e na formação dos alunos da USP da área da saúde. “O ICB é visto pela comunidade da USP como o Instituto que consegue congregar todos e fazer os jovens se apaixonar pela atividade acadêmica, científica e se desenvolverem qualificadamente para o exercício da sua profissão”. Segundo Segurado, “o título de Professor Emérito é conferido judiciosamente como reconhecimento do mérito daqueles que recebem essa honraria, sendo que o professor Paulo é um deles”. 

 

A celebração foi encerrada com o discurso da professora Chao Yun Irene Yan, chefe do Departamento de Biologia Celular e do Desenvolvimento do ICB. Enquanto uma apresentação feita pelo Departamento era exibida, ela dirigiu a Abrahamsohn as palavras do Conselho do BCD, que há tempos planejava indicar o docente ao título de Professor Emérito. “O professor Paulo nos lembra, com seu exemplo, que o verdadeiro impacto da carreira docente não se limita ao presente, mas se estende para as futuras gerações, deixando um legado de conhecimento e dedicação”, proferiu a docente. Ao final do discurso, a professora fez a entrega da placa a Abrahamsohn.

 

Após a cerimônia, foi realizada uma comemoração em homenagem ao professor Paulo Abrahamsohn no hall da Diretoria.

 

Confira a galeria de fotos da cerimônia aqui. 

 

Ana Carolina Guerra | Acadêmica Agência de Comunicação e NUCOM-ICB

28/02/25
“Dormir Pesquisador e Acordar Professor”: O Desafio da Formação Docente na USP

Após o NUCOM-ICB ter recebido o texto abaixo do prof. Gabriel Padilla, que trata sobre a participação de docentes do ICB na 1ª Semana Pedagógica da USP, divulgamos abaixo a íntegra dessa matéria produzida por ele, devido à sua qualidade informativa:


As Pró-reitorias de Graduação e de Pós-Graduação da USP, por meio do Programa de Desenvolvimento Profissional Docente (PDPD), realizou a 1ª Semana Pedagógica, entre 17 e 21 de fevereiro, estimulando os seus docentes no compartilhamento de experiências e discussões sobre os desafios pedagógicos na Universidade. Foi com grande prazer que docentes e pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB-USP), do campus São Paulo, contribuíram com o evento, trazendo para uma roda de conversa o tema intitulado “Engajamento Docente: O caminho para transformar a sala de aula universitária”. Em formato online, o painel teve a participação de docentes das mais diversas áreas de atuação e de diferentes campi da universidade. 

 

O Prof. Gabriel Padilla, do Departamento de Microbiologia, iniciou a moderação do debate e trouxe em sua fala a importância desse tipo de evento para os docentes. Ele ressaltou, que em seus 34 anos de USP, foi a primeira vez que sentiu comprometimento com a formação docente.  

 

Em seguida, comentou-se sobre os desafios significativos que a formação docente no ensino superior ainda enfrenta, sendo um deles, os concursos de seleção para vagas de docência, que priorizam considerações como o índice H e o fator de impacto das publicações científicas. Essa reflexão foi trabalhada pela Dra. Renata L. A. Furlan, pesquisadora colaboradora no Departamento de Microbiologia e coordenadora do Projeto de Extensão Universitária Biocientista Mirim/ICB-USP, que participou da roda de conversa junto com os docentes do Instituto. 

 

A pesquisadora destacou como esse modelo de avaliação perpetua uma visão tradicional da educação, em que a seleção de um docente é valorizada apenas por seu conhecimento técnico, e não pelas demais habilidades e competências que permeiam a profissão. Essa abordagem contrasta com um modelo educacional mais inovador, que coloca a aprendizagem do estudante no centro do processo. 

 

Para que esse modelo seja implementado nas salas de aula da universidade, os docentes têm que necessariamente passar por processos de formação pedagógica, para evitar o choque de realidade inicial em que o sujeito dorme engenheiro e acorda professor, ou dorme arquiteto e acorda professor, assim como um aluno que, de repente, se torna professor. Esse processo já não se sustenta nos dias de hoje. O ensino exige preparo, formação pedagógica e um compromisso contínuo com a educação, tornando essencial a valorização e qualificação dos docentes em todas as áreas do conhecimento.  

 

Além disso, Furlan ressaltou a necessidade de ressignificar o ensino, levando em conta a complexidade e a diversidade presentes nas salas de aula. Para ela, um bom docente não se define apenas pelo domínio do conteúdo, mas também pela habilidade de promover um ambiente de aprendizado dinâmico, acessível e significativo para os estudantes. Esta discussão reforça o ressignificar dos critérios de valorização dos docentes no ensino superior, incentivando uma formação que vá além da produção científica e contemple, de fato, a excelência no ensino.

 

Dando continuidade ao tema da “Roda de Conversa”, a Profa. Rita Café Ferreira do departamento de Microbiologia, trouxe sua experiência com o Projeto #Adote: Adote uma Bactéria, que aplica, há mais de dez anos, na disciplina de bacteriologia do curso de graduação de Ciências Biomédicas do ICB-USP. Ela enfatizou que o Adote uma Bactéria é um exemplo de iniciativa engajadora, pois estimula ativamente a participação dos alunos no ensino de microbiologia de maneira criativa e interativa utilizando metodologias ativas, como mídias sociais, jogos e atividades lúdicas, colocando os estudantes no centro do processo de aprendizado, incentivando-os a assumir um papel protagonista na construção e disseminação do conhecimento científico.

 

Concluindo a discussão, o Prof. Fernando Abdulkader lembrou que o engajamento docente passa pela percepção por parte do educador de que há também engajamento discente, num ciclo virtuoso. Apontou também que não há receita universal para que o engajamento docente e discente aconteça, mas alguns princípios gerais foram sugeridos pelo professor, como o docente procurar enfatizar nas suas aulas os aspectos dos assuntos que tem de tratar com os quais mais se encanta – pois seu entusiasmo tende a contaminar os estudantes também. 

 

Ademais, sugeriu uma “leitura” frequente do estado de espírito da sala, sendo maleável quanto à sequência dos assuntos a serem abordados e ao número de intervalos dentro dos períodos de aula. Um aspecto que por vezes acaba sendo negligenciado é o de que a informação visual tem preponderância em relação a outras modalidades sensoriais usadas para mediar a comunicação entre pessoas. Isso implica em que, naturalmente, os estudantes foquem sua atenção nos slides do que no discurso do docente. Assim, o professor recomendou que, na medida do possível, os docentes procurem fazer animações simples em suas sequências de slides, ou considerem usar a lousa, pois dessa forma estudantes e docentes estão na mesma velocidade durante a aula. 

 

Abdulkader concluiu resumindo sua fala com a recomendação de Richard Feynman, prêmio Nobel em física e educador do século XX, de que um professor, ao preparar uma aula, deveria considerar o que quer que os estudantes aprendam e por que quer que o aprendam (ou seja, as habilidades e competências). A partir daí, a estratégia didática tende a aparecer naturalmente, a partir do bom senso, experiência acumulada e entusiasmo do docente.

 

                               

27/02/25
Estudos do ICB-USP desvendam novos mecanismos de proteção cerebral na hipertensão através do exercício físico

Novos achados mostram que o exercício aeróbico fortalece as junções oclusivas da barreira hematoencefálica e reduz a inflamação mediada pela micróglia.


Pesquisadores do Departamento de Fisiologia e Biofísica do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP), liderados pela professora Lisete Compagno Michelini, alcançaram avanços inéditos na compreensão dos mecanismos pelos quais o exercício físico é benéfico ao funcionamento da barreira hematoencefálica (BHE) — uma estrutura essencial que protege o cérebro de substâncias circulantes nocivas ao sistema nervoso central e contribui para prevenir danos relacionados à elevada variabilidade da pressão arterial, como AVCs e complicações em órgãos vitais, incluindo coração e rins.

 

O estudo, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e realizado ao longo de cinco anos, demonstrou em hipertensos que o treinamento aeróbio além de reduzir o transporte de vesículas transcelulares, também fortalece as junções oclusivas da BHE, aumentando sua resistência e seletividade. Além disso, os cientistas identificaram que o exercício reduz a reatividade da micróglia (células de defesa do sistema nervoso central que atuam como “macrófagos residentes”) que ao sintetizar mediadores inflamatórios críticos prejudicam o funcionamento da barreira.

 

Esses achados inéditos representam um avanço significativo em um campo de pesquisa que vem sendo explorado pelo grupo há anos. Estudos anteriores já haviam demonstrado que o exercício aeróbico não apenas reduz a pressão arterial, mas também estabiliza sua variabilidade, protegendo órgãos como cérebro, coração e rins dos danos causados pela hipertensão. Além disso, foi comprovado que o treinamento físico reduz a elevada permeabilidade da BHE tanto na hipertensão crônica quanto na insuficiência cardíaca, restaurando a homeostase cerebral mesmo na persistência da doença.

 

A BHE, localizada nos capilares cerebrais, age como um filtro seletivo entre o sangue e o cérebro, impedindo a entrada de substâncias tóxicas e macromoléculas, incluindo hormônios plasmáticos como a angiotensina II. Em excesso, este hormônio atravessa a barreira devido ao aumento de sua permeabilidade, desregulando o controle autonômico da circulação e agravando oscilações da pressão arterial, com impactos severos ao cérebro, coração e rins.

 

Junções oclusivas mais resistentes e micróglia modulada

As células endoteliais que formam que formam a BHE nos capilares encefálicos são conectadas por junções oclusivas que limitam a passagem de substâncias hidrossolúveis entre o sangue e o cérebro. Um novo estudo do grupo revelou que o treinamento físico aumenta a densidade e a resistência dessas junções, reduzindo o acesso de substâncias prejudiciais ao cérebro. “Essa descoberta mostra como o exercício físico vai além do controle dos níveis pressóricos, aumentando a seletividade da BHE e restaurando o controle autonômico da circulação”, explica Michelini.

 

Paralelamente, os pesquisadores demonstraram que o exercício reduz a reatividade da microglia, células fundamentais para a defesa e integridade do sistema nervoso central, reduzindo processos inflamatórios associados à hipertensão. Também este mecanismo contribui para preservar a funcionalidade da BHE e proteger o cérebro de danos decorrentes da doença.

 

Impactos na hipertensão secundária

Embora estudos anteriores tenham se concentrado na hipertensão primária e insuficiência cardíaca, o grupo também explorou, pela primeira vez, os efeitos do exercício físico sobre a permeabilidade da BHE na hipertensão secundária, frequentemente causada por problemas renais. Resultados preliminares indicam que o treinamento físico é capaz de corrigir déficits severos da BHE como o aumento exacerbado da formação de vesículas transcelulares e a redução da expressão da claudina-5, principal proteína responsável pela seletividade das junções oclusivas, os quais determinam a elevada permeabilidade da barreira na hipertensão de origem renal.

 

Reconhecimento internacional e relevância clínica

Desde seu início, em 2019, o projeto temático recebeu diversas premiações, incluindo o “Paul Dudley White International Scholar Award for the highest ranked abstract at the Hypertension Scientific Sessions 2021”, para doutoranda Vanessa B. Candido e o título de pesquisadora revelação da International Society of Hypertension, concedido à pós-doutoranda Hiviny de Ataídes Raquel. O estudo também resultou em várias publicações de destaque como a seleção de um artigo para o “APSselect november 2021” da American Physiological Society e outro como capa da revista Clinical Science em 2023. “Essas descobertas revelam mecanismos inéditos que ampliam nossa compreensão sobre os benefícios do exercício físico para a funcionalidade da BHE e a homeostase cerebral, reforçando seu papel como estratégia complementar no tratamento da hipertensão arterial”, conclui Michelini.

 

Artigos publicados: 

 

 






 

Angela Trabbold | Acadêmica Agência de Comunicação

24/02/25
Alunos do ICB-USP de São Paulo realizam atividade de extensão em Rondônia

Iniciativa fortalece a formação acadêmica e contribui para a promoção da saúde da população local, especialmente diante do envelhecimento da comunidade e da persistência de doenças negligenciadas.


Entre 20 e 31 de janeiro de 2025, ocorreu pela primeira vez o oferecimento da atividade de extensão AEX-ICB-00016, na qual nove estudantes dos cursos de Ciências Biomédicas e Ciências Fundamentais para a Saúde, do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, localizado em São Paulo, visitaram o Centro Avançado de Ensino, Pesquisa e Extensão do ICB5, em Monte Negro, RO. Também participaram da ação 18 alunos de Medicina de uma Instituição de Ensino Superior (IES) do Estado de Rondônia.

 

Durante a atividade, os graduandos acompanharam toda a rotina no ICB5, sob orientação da profa. Carla Carvalho, do Departamento de Fisiologia, e do prof. Luís Marcelo Aranha Camargo, do Departamento de Parasitologia do ICB5. Inicialmente, os alunos foram divididos em cinco frentes de trabalho. A primeira era recepção dos pacientes agendados e mensuração dos dados pessoais, antropométricos iniciais e vitais. A segunda tarefa era realizar consultas clínicas. O terceiro grupo ficou responsável pela execução dos procedimentos complementares, quando indicados a partir da consulta. A discussão e registro da conduta de cada caso clínico foi a quarta frente do projeto. Já a quinta parte era o encaminhamento do paciente para outro procedimento externo ao ICB5, quando necessário.

 

Semanalmente, era feito um rodízio dos estudantes entre as cinco frentes de trabalho. Essa experiência foi fundamental não apenas para o aprendizado acadêmico, mas também para a assistência à população local, que enfrenta desafios específicos de saúde pública. A transição epidemiológica, marcada pelo envelhecimento da comunidade, tem resultado no aumento de doenças crônicas não transmissíveis, como hipertensão e diabetes, além da persistência de doenças negligenciadas como hanseníase, malária e leishmaniose.

 

De segunda a sexta, no período da manhã, os graduandos participavam do atendimento individual dos pacientes e puderam realizar os quatro procedimentos complementares que são feitos no ICB5: eletrocardiograma, espirometria, retinografia e biopsia de pele. Esses exames são essenciais para a detecção precoce de doenças cardiovasculares, pulmonares e dermatológicas, que afetam consideravelmente a qualidade de vida da população local.

 

Já a tarde, o Prof. Aranha Camargo ministrava aulas dialogadas sobre um tema envolvendo os atendimentos clínicos ou sobre resultados de pesquisas, publicadas ou em andamento, sob sua coordenação.

 

Às sextas-feiras, o grupo acompanhou as atividades de campo, que envolvem as pesquisas atualmente em curso sobre flebotomíneos e leishmaniose canina e o estudo sobre potenciais patógenos emergentes em morcegos e outros reservatórios silvestres. Além disso, os alunos participaram de visitas a comunidades de garimpo próximas, onde a precariedade das condições sanitárias e a exposição a agentes infecciosos tornam essas áreas prioritárias para ações de saúde.

 

Participaram da atividade de extensão AEX-ICB-00016 os alunos do ICB-USP: Amanda Salamani; Ana Caroline Santos Silva; Ana Clara Romero Almeida; Bruna Gennari Rosa; Luiza Cruz Marcon; Marcos Paulo Santos Coelho; Mariana Mayumi Teramoto; Rebeca Rufino Martins e Thais Pailo de Carvalho.

 

Com informações da profa. Carla Carvalho

Edição: Ana Carolina Guerra | Acadêmica Agência de Comunicação e NUCOM-ICB

 

Alunos do ICB-USP (com jalecos), junto com os estudantes de RO e o prof. Luís Marcelo (no meio), em frente à entrada do ICB5.

Estudantes do ICB em momento de confraternização

Carro do ICB5.

Fachada do ICB5.

 

Consultórios do ICB5.

Alunos do ICB, em local de captura de flebotomíneos, instalando armadilha.

Paciente em uso de espirômetro.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

19/02/25
Paulo Abrahamsohn recebe título de Professor Emérito do ICB-USP

O professor compõe o corpo docente do Instituto desde sua fundação e tem como característica marcante seu grande envolvimento com pesquisa e ensino e a condução e participação nas atividades e demandas de diversas áreas acadêmicas e administrativas do ICB-USP


Nesta sexta-feira (21/2), o Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) irá conceder o título de Professor Emérito para o Prof. Dr. Paulo Alexandre Abrahamsohn, Professor Titular aposentado Sênior do Departamento de Biologia Celular e do Desenvolvimento (BCD). Ele se tornará o sétimo docente do ICB-USP a receber essa honraria. Conheça os outros professores Eméritos aqui.

 

A Profa. Irene Yan, chefe do BCD, explica que o Conselho do Departamento, por unanimidade, sugeriu a concessão do título ao Prof. Abrahamsohn devido à “sua característica marcante de antecipar e suprir demandas nas diversas vertentes da comunidade acadêmica, como um todo”. Abrahamsohn relata que a notícia do título foi recebida por ele com grande surpresa e satisfação. “Eu já vi colegas meus do Departamento se tornarem Professores Eméritos do ICB-USP, mas não achei que aconteceria comigo”.

 

Carreira – O Prof. Paulo Abrahamsohn tem uma carreira de mais de seis décadas dedicadas à docência e a pesquisa, que foram marcadas pelo seu pioneirismo e seu zelo com a USP, em especial com o ICB.

 

O interesse pela pesquisa começou em seu primeiro ano na Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), quando se encantou pela disciplina de Histologia e Embriologia. Em 1961, em seu segundo ano de graduação, Abrahamsohn se tornou estagiário dessa Cátedra. “Eu passava todo o meu tempo livre lá: hora do almoço, fim de tarde, fim de semana…”, conta ele sobre sua empolgação com aquela área do conhecimento.

 

Com o tempo, ainda na graduação, ele se tornou monitor e começou a lecionar aulas práticas e teóricas, além de desenvolver pesquisas. Nesse período, seus dois principais orientadores de estágio foram os Professores José Carneiro e Antônio Sesso. Em 1971 defendeu seu doutoramento já pelo ICB-USP. A parceria de Abrahamsohn com os professores José Carneiro e Luiz Carlos Uchôa Junqueira – catedrático do Departamento na FMUSP – levou à colaboração de Abrahamsohn na autoria de capítulos do livro Histologia Básica – Junqueira e Carneiro (Ed. Guanabara Koogan, 1995). Desde 2018, Abrahamsohn é editor e coautor junto com vários docentes do BCD desse livro, o qual é associado estreitamente ao Departamento. A obra já foi traduzida para pelo menos 12 idiomas e está na 14ª edição.

 

Após se formar em 1965, o então médico Paulo Abrahamsohn foi convidado pelo prof. Junqueira para integrar o corpo docente da FMUSP. Em 1966, ele se tornou Professor Assistente e começou a ministrar aulas de Biologia Celular, Histologia Geral, Histologia Especial, Embriologia Geral e Embriologia Especial. Entre 1968 e 1971, realizou seu doutorado em Histologia na FMUSP e posteriormente seu pós-doutorado (1971-1973) na Temple University e na University of Pennsylvania, em Philadelphia, Estados Unidos.

 

Em 1977, Abrahamsohn defendeu sua Livre-docência na área da Biologia da Reprodução. Nos anos seguintes, realizou estágios no exterior, destacando-se os períodos na Suécia, no Biomedicum Institute, em Uppsala, e na Universidade de Harvard, em Boston, nos EUA. Em 1984, ascendeu ao cargo de Professor Titular do Departamento de Histologia e Embriologia do ICB-USP. Aposentou-se em 2007 e se tornou professor Sênior do Departamento em 2013. Desde então, continua colaborando ativamente com o BCD e o ICB-USP.

 

Início no ICB-USP – No período da Reforma Universitária, durante a criação do ICB, em 1969, Abrahamsohn, juntamente com outros docentes do Departamento de Histologia e Embriologia da FMUSP, foi transferido para o ICB-USP. Na época ainda não existiam os prédios que compõem o setor de Ciências Biomédicas e Abrahamsohn foi designado para acompanhar a construção do prédio ICB I para que o edifício contasse com laboratórios de pesquisa e áreas de ensino adequados. Foi um trabalho desenvolvido junto com os professores Francisco Lacaz de Moraes e Antônio Carlos Zanini, do Departamento de Fisiologia e Farmacologia, e com o arquiteto Roberto Simões, do Fundo de Construções da USP (FUNDUSP). “Eu vi o ICB, antes dele nascer e ao nascer. Acredito que sou um dos poucos professores em atividade que presenciou a formação do Instituto”.

 

A construção dos prédios do setor de Ciências Biomédicas e o desenvolvimento do ICB, entre outras histórias, foram contadas por Abrahamsohn no livro Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo. 55 anos de criação. Sua história, seu progresso e suas realizações. Leia o livro aqui.

 

Pioneirismo – Como membro ativo do ICB-USP desde sua criação, Abrahamsohn foi pioneiro em muitos projetos no Instituto. Ele iniciou o Laboratório de Biologia da Reprodução, que foi um dos primeiros grupos de pesquisa do Departamento de Biologia Celular e do Desenvolvimento, ao qual se associou a Prof. Telma Zorn tendo, na época, como orientandos, Sergio Ferreira de Oliveira e Estela Maris Andrade Forell Bevilacqua, que se tornaram ambos professores do ICB-USP. A Prof. Estela Maris é atualmente docente Sênior do Instituto.

 

Em 2004, Abrahamsohn demonstrou seu pioneirismo ao criar um site para democratizar o acesso ao ensino da Histologia por meio da internet, que tem como público-alvo alunos universitários e pessoas interessadas no tema. O site mol.icb.usp.br pode ser acessado gratuitamente e conta com tutoriais interativos para ensino prático de histologia baseados em cortes histológicos de variados órgãos que o professor coletou e preparou durante anos. A plataforma recebe de 15.000 a 50.000 acessos mensais, incluindo usuários no exterior. “Pessoas da África Lusofônica me enviam e-mails sobre o site. Eu também recebi mensagens de estudantes brasileiros que utilizaram a plataforma enquanto estudavam nos Estados Unidos”.

 

Notando a necessidade dos alunos de pós-graduação de terem um guia para elaboração de artigos científicos, Abrahamsohn publicou o livro Redação Científica (Ed. Guanabara Koogan, 2004). “Sempre li muito desde criança. Com o tempo, comecei a me interessar pela escrita e desenvolvi maneiras melhores de redigir os textos científicos e, por isso, decidi propagar esse conhecimento”, conta o docente, que passou a ministrar aulas sobre o tema para alunos da pós-graduação. Em 2021, ele gravou um curso completo de redação científica, que está disponível no canal do YouTube do Programa de Pós-Graduação de Biologia de Sistemas. Além desse livro, o professor é coautor de Histologia para Fisioterapia e Outras Áreas da Reabilitação (Ed. Guanabara Koogan, 2004) e autor de Histologia (Grupo GEN Guanabara-Kogan, 2016).

 

Contribuições ao ICB-USP – Entre os anos de 1991 e 1994, Abrahamsohn coordenou três projetos de infraestrutura junto à FAPESP, que criaram condições adequadas para a modernização de laboratórios e de centrais multiusuários do Instituto. Uma das centrais beneficiadas foi o antigo setor de Microscopia Eletrônica, atual Central de Microscopia, que recebeu melhorias de infraestrutura, dois novos microscópios eletrônicos de transmissão e um de varredura. Atualmente, junto com o Prof. Diego Pulzatto Cury, do Departamento de Anatomia do ICB-USP, reativou a disciplina de Microscopia Eletrônica na pós-graduação. Além disso, também colaborou no projeto da profa. Dânia Emi Hamassaki que produziu microscópios de baixo custo, doados a escolas da rede pública.

 

Abrahamsohn também foi chefe do Departamento de Histologia e Embriologia, atual Departamento de Biologia Celular e do Desenvolvimento, entre 1991 e 1994 – um período difícil para o BCD em razão das aposentadorias simultâneas de 22 docentes naquele momento. Segundo a Prof. Irene Yan, a gestão de Abrahamsohn foi crucial na transição do corpo docente. “De acordo com sua visão para o ensino e pesquisa em biologia celular e tecidual, que passava por grande transformação na época, a recomposição do corpo docente ocorreu gradativamente, com a inclusão de docentes e pesquisadores provenientes de diferentes áreas de formação, tornando o Departamento multidisciplinar”, explica a docente.

 

Mais recentemente, Abrahamsohn foi responsável por diagnosticar a necessidade de implementar ações para promover a saúde mental e bem-estar da comunidade acadêmica. Em 2017, ele participou da criação da Comissão de Apoio à Comunidade (CAC), em que atua até hoje. Além disso, ele tem participação contínua e importante no Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos do ICB-USP e atuou como Ouvidor do Instituto de 2011 a 2014.

 

Em reconhecimento de sua intensa dedicação ao Departamento de Biologia Celular e do Desenvolvimento e ao Instituto de Ciências Biomédicas da USP, o Prof. Paulo Abrahamsohn será outorgado no dia 21 de fevereiro de 2025 com o título de Professor Emérito do ICB-USP.

 

Ana Carolina Guerra | Acadêmica Agência de Comunicação e NUCOM-ICB

19/02/25
Museu de Anatomia Humana do ICB-USP é tema de programa de TV no Japão

O programa incentivou turistas japoneses a visitar o museu; o MAH tem planos de expandir suas cooperações internacionais.


O Museu de Anatomia Humana Alfonso Bovero (MAH), localizado no Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), foi tema do programa de TV do Japão Crazy Journey, uma atração educativa no qual o fotógrafo Kenji Sato viaja ao redor do mundo mostrando lugares fascinantes e curiosos. Assista aqui o quadro com legendas em inglês. Incentivado pelo episódio, grupo de turistas japoneses realizou visita ao MAH no mês de janeiro.

 

Segundo a professora Silvia Lacchini, coordenadora e curadora do MAH, no Japão, não há museus de anatomia abertos ao público em geral, por isso Kenji Sato se interessou por conhecer o MAH e realizar as gravações para um episódio especial sobre o Brasil.

 

A ideia inicial era dedicar apenas cinco minutos do programa ao MAH, mas a visita ao acervo se revelou tão envolvente que resultou em um quadro de mais de 40 minutos. “Ele mencionou que não esperava ser tão positivamente impactado ao conhecer o museu e observar peças anatômicas, partes de corpos preservadas com uma qualidade e beleza surpreendentes. Ele ficou extasiado”, relata Lacchini, que guiou a equipe da TV japonesa durante o tour pelo museu.

 

Segundo ela, a previsão era que a gravação durasse meia hora, porém o interesse da equipe foi tão grande que eles acabaram dedicando toda manhã ao museu. A gravação ocorreu no dia 3 de outubro de 2024, e a reportagem foi ao ar em dezembro passado.

 

Repercussão – Após a exibição do programa, a repercussão foi imediata, despertando o interesse de japoneses pelo MAH. “Em janeiro, recebemos a visita de japoneses que nos contaram ter visto a reportagem na TV e decidido conhecer o museu”, fala a profa. Lacchini. Até o momento, o MAH recebeu a visita de dois japoneses, que estão organizando a vinda de um grande grupo de japoneses interessados em visitar São Paulo, incluindo o MAH.

 

“A curiosidade e o desejo por conhecimento aproximam as pessoas, independentemente da idade, formação ou origem”, afirma Lacchini. “Muitos visitantes chegam ao museu com ideias pré-concebidas, mas, ao verem as peças, suas percepções mudam. Eles se sentem à vontade para questionar e explorar o museu”.

 

Cooperações internacionais – Após a repercussão do programa e a visita dos turistas japoneses, o MAH planeja estreitar laços com o Consulado e a Embaixada do Japão para juntos promoverem o museu entre a comunidade japonesa.

 

O MAH também mantém parcerias com o ​Museo di Anatomia Umana Luigi Rolando – um museu de anatomia humana da Universidade de Turim (UniTO), na Itália. A instituição tem o objetivo de realizar ações conjuntas com o MAH e, futuramente, uma exposição no ICB. No ano passado, o MAH também recebeu a visita de uma comissão da Universidade de Turim.

 

Os dois museus são instituições irmãs, visto que o prof. Alfonso Bovero, que inspirou a fundação do MAH, foi aluno da Universidade de Turim e trabalhou no Instituto de Anatomia Humana Normal da UniTO, onde foi discípulo do prof. Carlo Giacomini, coordenador do instituto e do museu na época. Devido às atividades de Bovero na Itália, em 1913, ele foi convidado para assumir as Cátedras de Anatomia Descritiva e de Histologia na recém-criada Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, que posteriormente se tornou a Faculdade de Medicina da USP. Essa ligação histórica fortalece a cooperação entre as instituições e inspira futuras colaborações, como a exposição planejada no ICB.

 

Serviço:

O Museu de Anatomia Humana Alfonso Bovero está aberto ao público de terça a sexta-feira, das 08h30 às 16h00, e conta com monitores no local para visitas guiadas. A entrada é gratuita. Além do acervo permanente, que tem peças anatômicas de vários sistemas do corpo humano, até 28 de fevereiro de 2025, os visitantes poderão conferir a exposição temporária “Outbreak: Epidemias em um Mundo Conectado”. Ela mostra como patógenos são transmitidos entre pessoas e animais domésticos e silvestres, por que alguns surtos se tornam epidemias e como a saúde humana, animal e do meio-ambiente estão conectados na “saúde única.”

 

O MAH fica na Av. Prof. Lineu Prestes, 2415, Cidade Universitária, Butantã, São Paulo. Para mais informações sobre visitas, entre em contato pelo telefone (11) 3091-7360 ou por e-mail mah@icb.usp.br.

 

Ana Carolina Guerra | Acadêmica Agência de Comunicação e NUCOM-ICB

19/02/25
Estudo do ICB-USP revela que hipertensão arterial afeta sêmen desde a juventude

Descobertas revelam danos permanentes no sêmen, com limitações nos tratamentos farmacológicos atuais.


Uma pesquisa do Instituto de Ciências Biomédicas da USP (ICB-USP) revelou que a hipertensão arterial pode causar alterações precoces e persistentes na qualidade do sêmen, incluindo danos ao acrossoma – estrutura crucial para a penetração do espermatozoide no óvulo –, além de comprometer a microcirculação testicular ao longo da vida. Coordenado pelo professor Stephen Rodrigues, do Departamento de Farmacologia, o trabalho mostrou que essas alterações ocorrem já na juventude e não são completamente revertidas por medicamentos anti-hipertensivos, apontando desafios para a preservação da saúde reprodutiva masculina. O estudo foi publicado em novembro na Scientific Reports, do grupo Nature, e teve como primeira autora a pesquisadora Nicolle Machado. Tanto o projeto quanto Machado tiveram apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).

 

Resultados de 2019: um ponto de partida

O trabalho deu continuidade a uma pesquisa anterior, de 2019, conduzida pelo pesquisador Lucas Colli, sob orientação da Profa. Maria Helena Catelli de Carvalho, hoje já aposentada. Nesse estudo, foram analisados ratos hipertensos do modelo SHR (Spontaneously Hypertensive Rats), cuja hipertensão é espontânea e similar à condição primária que ocorre em cerca de 90% dos casos em humanos. Na ocasião, o grupo identificou que esses animais apresentavam alterações significativas na qualidade do sêmen, como redução na concentração e motilidade dos espermatozoides, além de mudanças no movimento, que, em vez de retilíneo, tornou-se curvilíneo ou ausente.

 

Esses efeitos foram associados a problemas na microcirculação testicular, incluindo a interrupção frequente do fluxo sanguíneo, que nos ratos normotensos ocorre cerca de seis vezes por minuto, mas nos ratos hipertensos aumenta para oito vezes por minuto. Essa irregularidade no fluxo prejudica a oxigenação e o aporte de nutrientes ao tecido testicular, afetando diretamente a produção de espermatozoides.

 

Novos avanços: impacto da idade e eficácia de tratamentos

No estudo mais recente, os pesquisadores ampliaram a análise para investigar os efeitos da hipertensão arterial em diferentes faixas etárias, desde animais jovens (8 a 10 semanas, equivalente a cerca de 18 anos humanos) até ratos mais velhos (60 a 66 semanas, equivalente a 45 a 50 anos humanos). A descoberta mais marcante foi que as alterações na qualidade do sêmen, como menor concentração e danos no acrossoma – estrutura essencial para a penetração do espermatozoide no óvulo –, ocorrem precocemente e persistem ao longo de toda a vida reprodutiva.

 

“Esses resultados mostram que a hipertensão arterial tem um impacto reprodutivo que começa muito cedo e persiste durante toda a fase adulta. Mesmo períodos relativamente curtos de exposição a níveis elevados de pressão arterial já são suficientes para causar danos irreversíveis”, explica o professor Stephen Rodrigues.

 

Além disso, os pesquisadores testaram a eficácia de diferentes medicamentos anti-hipertensivos, revelando que nem todos são igualmente eficazes para restaurar a saúde reprodutiva. A losartana, amplamente utilizada na clínica, reduziu os níveis de pressão arterial, mas não foi capaz de reverter as alterações nos espermatozoides. Por outro lado, a prazosina, um antagonista do receptor alfa-adrenérgico, não apenas reduziu a pressão arterial como também corrigiu parte dos danos observados no sêmen. “Esse achado sugere que apenas reduzir a pressão arterial não é suficiente para proteger a saúde reprodutiva. A combinação de agentes que reduzem a mortalidade com outros que preservem a função reprodutiva pode ser um caminho promissor”, aponta Rodrigues.

 

Colaborações e novos horizontes

O estudo contou com a colaboração de renomados pesquisadores, como o professor Ricardo Bettola, professor da Wayne State University School of Medicine, além do autor do estudo anterior, Lucas Colli, que participou ativamente no desenvolvimento do novo projeto.

 

Para o futuro, o grupo planeja investigar o impacto da hipertensão arterial e de agentes anti-hipertensivos no epidídimo, estrutura responsável por armazenar os espermatozoides antes da ejaculação. Outro foco será avaliar o papel da atividade física na melhora da qualidade do sêmen e na microcirculação testicular. “Queremos entender se intervenções não farmacológicas, como o exercício, podem oferecer benefícios similares aos medicamentos, promovendo melhorias na saúde reprodutiva de forma natural”, explica Rodrigues.

 

Relevância e impacto

O trabalho reafirma a importância de investigar os efeitos sistêmicos da hipertensão arterial, uma condição que afeta milhões de pessoas no Brasil e no mundo. “Um dado alarmante é que, nos últimos 50 anos, tem se observado uma redução de cerca de 50% de espermatozoides presentes no sêmen, em indivíduos hipertensos ou não. Ainda não se sabe ao certo as causas desse fenômeno, ou se ele vai começar a comprometer a reprodução no futuro. Por isso, todo estudo é bem-vindo, seja para reverter ou impedir que essa redução aumente.”

 

Felipe Parlato | Acadêmica Agência de Comunicação

06/02/25
Estudo do ICB-USP revela conexão entre hormônio do crescimento e regulação da insulina

Descoberta tem implicações para o entendimento e tratamento do diabetes tipo 2, cujas causas ainda não são totalmente esclarecidas. Embora obesidade e genética aumentem o risco, não se sabe por que algumas pessoas desenvolvem a doença, enquanto outras, expostas aos mesmos fatores, não a manifestam.


São Paulo, fevereiro de 2025 – Um estudo inovador conduzido pelo Laboratório de Neuroendocrinologia e Metabolismo do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), sob a liderança do professor José Donato Júnior, revelou um mecanismo inédito de ação do hormônio do crescimento (GH) no sistema nervoso central. A pesquisa, publicada na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), demonstrou que esse hormônio regula diretamente a sensibilidade à insulina por meio de uma população específica de neurônios no hipotálamo, um achado que pode ter implicações significativas no entendimento e tratamento do diabetes. O estudo recebeu financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) no âmbito de um projeto temático.

 

Nova função do GH – O hormônio do crescimento é tradicionalmente conhecido por seu papel no crescimento e na regeneração celular. No entanto, a equipe do professor Donato vem investigando há anos suas funções menos conhecidas no metabolismo. “Descobrimos que o GH atua no cérebro de formas que antes não eram imaginadas. Ele regula a sensibilidade à insulina e o metabolismo da glicose por meio de um grupo de neurônios localizados no núcleo paraventricular do hipotálamo, especificamente aqueles que expressam Sim1 e VGLUT2“, explica o pesquisador.

 

A pesquisa utilizou camundongos geneticamente modificados para eliminar o receptor de GH nesses neurônios específicos. Os resultados foram surpreendentes: os animais apresentaram menores níveis de glicemia e uma sensibilidade à insulina significativamente maior em comparação aos camundongos normais. Isso sugere que o GH desempenha um papel crucial na regulação dos níveis de açúcar no sangue, e sua manipulação pode ter potencial terapêutico, pois a redução da glicemia observada nos camundongos estava associada à menor produção de glicose pelo fígado.

 

Conexão entre GH e diabetes – O estudo também ajudou a explicar por que o GH é conhecido por ter um efeito diabetogênico. Condições como acromegalia — um distúrbio causado pelo excesso de GH — são associadas a uma maior incidência de diabetes, e agora os pesquisadores entendem melhor o mecanismo por trás desse fenômeno. “Nosso estudo revela que a atuação do GH nesses neurônios pode ser um dos principais fatores que contribuem para a resistência à insulina, que é um dos aspectos centrais do diabetes tipo 2 [doença caracterizada pela resistência à insulina e pela deficiência na produção desse hormônio pelo pâncreas]”, afirma Donato.

 

A pesquisa também pode ajudar a responder uma pergunta fundamental: por que algumas pessoas desenvolvem diabetes enquanto outras não, mesmo quando expostas aos mesmos fatores de risco? “Nosso estudo sugere que diferenças na sensibilidade ao GH podem desempenhar um papel crucial na propensão ao diabetes, e desvendar esse mecanismo pode abrir caminhos para tratamentos mais eficazes”, diz o cientista.

 

“Agora, nosso próximo passo é entender detalhadamente como esses neurônios se comunicam com o fígado para influenciar os níveis de glicose no sangue”, afirma. Esse aprofundamento permitirá avaliar quais sinais bioquímicos estão envolvidos nessa regulação e como a interferência nesse mecanismo pode ser explorada para melhorar a resposta do organismo à insulina.

 

O grupo de pesquisa coordenado por Donato tem uma história consolidada de pesquisa na área. Estudos anteriores realizados pela equipe demonstraram que o GH desempenha papéis importantes em diversas funções do organismo, incluindo a regulação da fome e da ansiedade, a influência sobre a longevidade e a neuroproteção. As pesquisas do grupo têm recebido reconhecimento internacional, sendo publicadas em revistas científicas de alto impacto como Nature Communications, além de atraírem financiamento significativo para continuação dos estudos. Esse último, intitulado Growth hormone receptor in VGLUT2 or Sim1 cells regulates glycemia and insulin sensitivity, está disponível neste link.

 

Angela Trabbold | Acadêmica Agência de Comunicação

05/02/25
12ª edição do Curso de Férias de Imunologia tem início nesta segunda-feira (27)

Após o NUCOM-ICB ter recebido o texto abaixo do doutorando Carlos Neandro Cordeiro Lima e da comissão do Curso de Férias de Imunologia, que trata sobre a realização do evento no final deste mês, divulgamos abaixo a íntegra dessa matéria produzida por eles, devido à sua qualidade informativa:


O evento pode ser considerado uma porta de entrada para novos alunos e um guia para os que gostam da área, mas não sabem em qual direção seguir

 

O Curso de Férias de Imunologia, idealizado pelo Programa de Pós-graduação em Imunologia do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), começa nesta segunda-feira (27) e se estende ao longo de duas semanas entre palestras e estágios práticos.

 

Esta edição, que é a 12ª, teve 241 inscrições, tendo alcançado todas as regiões do Brasil e até um outro país da América Latina.

 

“O curso é uma porta de entrada para todos aqueles alunos de graduação e também para os de pós conhecerem a área, os professores, e verem as possibilidades de caminhos por onde podem começar a trilhar a carreira”, diz Jonathan Zanatta, membro da Comissão Organizadora e palestrante em um dos dias do curso.

 

O evento mostra aos alunos mais sobre a área e as subáreas da Imunologia, permitindo que entrem em contato com os especialistas e seus trabalhos. As palestras, que acontecem na primeira semana, têm os mais variados temas: desde a História da Imunologia, passando por Inflamações, até micro-RNA.

 

As aulas são ministradas por professores do próprio Departamento de Imunologia do ICB, por alguns de seus pós-graduandos e pelos patrocinadores do curso.

 

Já na segunda semana, alguns dos laboratórios do Departamento são abertos para receberem os inscritos que demonstraram interesse em ter um gostinho de como é a vida na bancada. Os alunos têm a oportunidade de acompanharem a rotina de pesquisa e vivência desses lugares por cinco dias.

 

“A gente encontra vários alunos que já participaram do curso em simpósios, congressos, é gratificante ver aonde chegaram. Muitos também retornam para a USP para continuar a carreira acadêmica no Departamento de Imunologia, isso quebra o estigma de que a USP é algo inalcançável. Temos alunos de pós-graduação de vários estados que participaram do curso e por isso voltaram para nós”, conta Sandra Marcia Muxel, pesquisadora sobretudo na área de Biologia Molecular e Imunologia, orientadora do Laboratório de Imunologia Molecular e Regulação do ICB e que também irá palestrar no evento.

 

Todos os anos o curso é organizado por discentes da área de Imunologia do ICB – sobretudo mestrandos e doutorandos – e está aberto para todos os graduandos e pós-graduandos com dúvidas na área ou interessados em ir mais a fundo no mundo da Imunologia, mas não sabem por onde começar.

 

Para saber da próxima edição do Curso de Férias em Imunologia e mais informações, acompanhe o site cursoimunousp.wixsite.com/xiicursodeferias e o Instagram @cursoimunousp.

24/01/25
Desmatamento na Amazônia aumenta presença de morcegos em áreas urbanas de Rondônia, aponta estudo da USP

Pesquisa detecta parasitas portadores de bactérias associadas a doenças humanas, destacando impacto na saúde pública.


O avanço do desmatamento na Amazônia, aliado às mudanças climáticas, está provocando mudanças profundas no comportamento de morcegos, forçando sua migração para áreas urbanas. Um estudo coordenado pelo ICB5/USP em Monte Negro (RO) identificou que entre 70% e 80% dos morcegos capturados estavam em zonas urbanas ou periurbanas, evidenciando como a destruição de habitats naturais tem aproximado esses animais das cidades.

 

“Os morcegos são atraídos pela oferta de abrigo, como sótãos de igrejas e galpões abandonados, e pela maior disponibilidade de alimento, já que a iluminação pública atrai insetos”, explica o professor Luís Marcelo Aranha Camargo, do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB5/USP), que coordena o estudo realizado pelos pesquisadores Leormando Fortunato Dornelas Júnior, Jaqueline de Oliveira, Dra. Helena Lage Ferreira, Dra. Clarice Arns e Dr. Edison Luiz Durigon. A pesquisa também conta com a participação dos alunos de Iniciação Científica Bruno Jorge Ferreira Câmara, Igor Rodrigo Ferreira Siqueira, Hayslla Mikaella do Couto Araújo e Tainara Costa dos Santos.

 

Camargo também destaca o fenômeno conhecido como spillover, ou transbordamento, que ocorre quando as alterações ambientais levam à migração de espécies silvestres para ambientes urbanos, aumentando a proximidade com os seres humanos e, consequentemente, o risco de transmissão de doenças.

 

Financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a pesquisa revelou um potencial risco à saúde pública. Os ectoparasitos encontrados nos morcegos – como carrapatos e moscas – testaram positivo para bactérias dos gêneros Rickettsia e Bartonella. A primeira está associada à febre maculosa, enquanto a segunda pode causar doenças como febre das trincheiras e anemia febril aguda. Embora não tenha sido comprovada transmissão para humanos, o estudo reforça a necessidade de monitoramento constante.

 

Metodologia rigorosa – Durante 25 meses, os pesquisadores capturaram morcegos em áreas de floresta, zonas urbanas e periurbanas. As capturas ocorreram três vezes ao mês, entre 17h e 23h, utilizando redes de neblina quase invisíveis à ecolocalização dos animais e busca ativa com o uso de puçá. Após serem submetidos a procedimentos não invasivos, os morcegos eram devolvidos ao local de captura.

 

Os ectoparasitos retirados com pentes finos e pinças foram analisados por técnicas de biologia molecular, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz de Manaus (FIOCRUZ/ILMD), Faculdade de Medicina Veterinária e Zoonoses da USP (FMVZ/USP), Instituto Butantan (IB) e Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).  Além dos parasitos externos (ectoparasitos), amostras de sangue dos morcegos estão sendo analisadas para identificar outros patógenos, como os protozoários do gênero Leishmania.

 

Os pesquisadores pretendem expandir o estudo para regiões na fronteira entre Rondônia e Mato Grosso, onde há uma zona de transição entre Floresta Amazônica e Cerrado. “Esses ecossistemas raros podem abrigar espécies de morcegos e parasitas ainda desconhecidos”, observa o pesquisador.

 

Camargo destaca que, embora muitas vezes temidos, os morcegos desempenham papéis fundamentais no equilíbrio ecológico, como o controle de pragas, disseminação de sementes e a polinização. Apenas 5% das espécies são hematófagas, e a maioria se alimenta de frutos, néctar ou insetos.

 

Em paralelo, o núcleo de pesquisa em Rondônia, em parceria com a FIOCRUZ/ILMD e com fomento do CNPq (INCT/EpiAmo/CNPQ), estuda eventual ocorrência de leishmaniose visceral canina em Monte Negro. A equipe coordenada por Camargo conta com a participação de seu doutorando Leormando Fortunato Dornelas Júnior (FIOCRUZ/ILMD) e a aluna de mestrado Amanda Carolina Aguiar (FMVZ/USP), além dos alunos de iniciação científica Gabriel de Sá Pitangui Antônio de Andrade (UNISL/P.Velho), Janaina Rodrigues Raiser e Monizi Angélica Alves Steger (Veterinária IFRO/Ji-Paraná).

 

Embora ainda não haja casos registrados da doença em humanos na região, testes feitos pelos pesquisados com 450 cães na região mostraram que 15% a 20% dos animais testaram positivos para a presença de anticorpos contra Leishmania chagasi. Esse trabalho foi feito com testes rápidos, em parceria com o Ministério da Saúde. “Os cães atuam como hospedeiros e podem transmitir o protozoário aos humanos por meio do flebotomíneos, conhecido como mosquito-palha”, detalha o professor.

 

Foram capturados, até o momento 102 espécimes de flebotomíneos que estão sendo submetidos a testes de biologia molecular para ver se estão infectados. Além disso, o sangue dos cães que testaram positivo ao teste rápido está sendo testados por técnicas de biologia molecular para verificar se de fato estão infectados.

 

Novas fronteiras – Os pesquisadores também estão investigando a presença de variantes do SARS-CoV-2 nos morcegos, visando antecipar possíveis surtos. “Acredita-se que na Ásia a transmissão aconteceu a partir de morcegos “raposa-voadora”, porém, no Brasil, não temos essa espécie, mas sim morcegos menores, por isso queríamos entender se esses animais também podem ser infectados por variantes do SARS-CoV-2”, afirma Camargo.

 

Realizado em conjunto com o Ministério da Saúde, ICB5/USP e o Instituto Butantan, esse braço da pesquisa objetiva prever um possível surto envolvendo variantes do SARS-CoV-2.  Atualmente, as amostras estão sendo estudadas na USP/SP.

 

Ana Carolina Guerra | Acadêmica Agência de Comunicação e NUCOM-ICB

15/01/25
Livro “A Evolução é Fato” pode se tornar ferramenta didática em escolas de ensino médio

O livro explica a teoria da evolução, desde Darwin até avanços modernos, com exemplos práticos e evidências científicas. Destaca a seleção natural, adaptações e a contribuição brasileira para o tema, conectando a evolução a desafios atuais.


Capa do livro.

A obra “A Evolução é Fato”, lançada este ano pela Academia Brasileira de Ciências e organizada pelo professor Carlos Frederico Martins Menck, do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), está prestes a ganhar um novo papel: tornar-se uma referência didática para alunos do ensino médio. Este plano, liderado por Menck em parceria com as professoras Marie-Anne Van Sluys e Rosana Louro Ferreira Silva, ambas do Instituto de Biociências (IB) da USP, visa adaptar a obra para disciplinas de extensão voltadas à educação básica e à formação de professores. Participam também da iniciativa os docentes Daniel J. G. Lahr, Mariana C. de Oliveira e Suzana Ursi, todos do IB-USP.

 

Com textos acessíveis e baseados em fatos científicos consolidados, o livro já foi amplamente reconhecido como um instrumento eficaz para combater o negacionismo e o criacionismo, problemáticas que desafiam o ensino da evolução biológica. “Nossa ideia é oferecer aos estudantes e professores uma ferramenta sólida para entender a teoria da evolução e sua importância científica e cultural, destacando as contribuições brasileiras nesse contexto”, afirma Menck.

 

A iniciativa dialoga com a nova política de extensão da USP, que integra atividades práticas nos currículos de graduação. A equipe prevê que, já no próximo ano, disciplinas de extensão baseadas no livro sejam oferecidas, levando alunos de graduação a apresentarem os conteúdos da obra em escolas públicas. Programas de formação continuada para docentes também estão sendo planejados para que o livro seja explorado como recurso pedagógico.

 

O livro explora a teoria da evolução, desde as ideias pioneiras de Darwin e Wallace até os avanços científicos modernos em genética, biologia molecular e paleontologia. Ele demonstra como a vida na Terra se diversificou ao longo de bilhões de anos, guiada pela seleção natural e adaptada a diferentes ambientes. Com uma abordagem acessível, apresenta evidências científicas e destaca contribuições brasileiras na compreensão da evolução. Além de desmistificar conceitos equivocados, o livro conecta o tema a desafios contemporâneos, como pandemias e mudanças climáticas. É uma obra essencial para entender a história da vida e sua relevância no presente.

 

Para Menck, o uso didático do livro é mais do que um projeto acadêmico: “É uma resposta direta ao momento em que vivemos, marcado por desinformação e ataques à ciência. Nosso objetivo é levar o conhecimento à sala de aula, ajudando a formar cidadãos críticos e bem informados.”

 

A expectativa é que o projeto inspire o interesse e o engajamento de outras áreas da USP, como geologia e paleontologia, ampliando o alcance e a relevância da iniciativa. Além disso, espera-se que outras universidades adotem propostas semelhantes, fortalecendo o uso do livro como ferramenta didática em todo o país. Há também planos de impressão da obra e tradução para o inglês e o espanhol.

 

Angela Trabbold | Acadêmica Agência de Comunicação

09/01/25
ICB-USP avança no entendimento da leptospirose com descobertas sobre mecanismos de evasão do sistema imune

Entre os achados, pesquisadores identificaram enzimas que degradam componentes críticos do sistema complemento, essencial para a defesa do organismo contra o patógeno.


Pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), liderados pela professora Lourdes Isaac, do Departamento de Imunologia, e em colaboração com o grupo da Dra. Angela Silva Barbosa, do Laboratório de Bacteriologia do Instituto Butantan, revelaram mecanismos sofisticados utilizados pela bactéria Leptospira para escapar do sistema imunológico humano, abrindo novas perspectivas para o desenvolvimento de vacinas e terapias. Conhecida como “doença da urina do rato”, a leptospirose representa um grave problema de saúde pública, especialmente em países tropicais como o Brasil. Condições como enchentes recorrentes, saneamento básico deficiente e o clima quente e úmido favorecem a transmissão da bactéria.

 

Entre os achados mais relevantes, financiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), estão proteases secretadas por Leptospiras, como a termolisina e a leptolisina, que degradam componentes essenciais do sistema complemento – um conjunto de mais de 40 proteínas do sistema imune responsável por eliminar microrganismos. Essa ação enfraquece o controle da infecção, inclusive dificultando a fagocitose, processo crucial no qual células imunes englobam e destroem patógenos. Além disso, foi demonstrado que a Leptospira sequestra proteínas reguladoras do sistema complemento, como o Fator H, a C4BP (C4b binding protein) e a vitronectina, utilizando-as para dificultar a resposta imune.

 

Esses mecanismos foram detalhadamente caracterizados em modelos experimentais e clínicos e publicados em revistas científicas, como o artigo aceito recentemente pela Microbes and Infection. O grupo liderado pela pesquisadora do Instituto Butantan foi responsável pela identificação e caracterização da leptolisina, uma das proteases investigadas.

 

Impactos e potencial terapêutico – Testes realizados em hamsters imunizados com a termolisina demonstraram uma resposta protetora significativa contra a Leptospira patogênica. Está em andamento a avaliação do seu potencial vacinal. “Essas descobertas são passos iniciais para o desenvolvimento de candidatos a vacinas e terapias”, afirma Lourdes Isaac.

 

Embora vacinas veterinárias estejam disponíveis, ainda não há imunizações eficazes e universais para humanos. Vacinas desenvolvidas em países como Cuba, França, Japão e China atendem apenas variedades locais da bactéria. “A leptospirose é frequentemente confundida com outras doenças, como a dengue, devido à similaridade dos sintomas iniciais, o que dificulta o diagnóstico precoce”, explica a professora.

 

A maioria dos casos apresenta sintomas leves, mas a doença pode evoluir para formas graves, como insuficiência renal, hepática e pulmonar, além de meningite. Um quadro particularmente preocupante é a síndrome hemorrágica pulmonar associada à leptospirose, que provoca hemorragias nos pulmões e dificuldade respiratória, com uma taxa de mortalidade de aproximadamente 50%.

 

Próximos passos da pesquisa – O grupo de pesquisa do ICB-USP agora investiga o papel do sistema complemento na resposta inflamatória exacerbada observada nas formas mais graves da doença. Em colaboração com o professor Amaro Duarte Nunes, do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da USP, estão sendo analisados tecidos de pacientes que faleceram devido à síndrome hemorrágica pulmonar associada à leptospirose, com o objetivo de identificar se houve ativação do sistema complemento nesses órgãos.

 

“Queremos entender se o sistema complemento, além de controlar a infecção, também contribui para a intensa resposta inflamatória observada em quadros graves, como a síndrome hemorrágica pulmonar associada à leptospirose”, explica a professora Lourdes Isaac. Esses estudos buscam determinar até que ponto essa ativação piora o quadro clínico e, com base nos resultados, os pesquisadores consideram explorar o uso de inibidores do sistema complemento como uma abordagem terapêutica.

 

Desafios globais e realidade local – Estima-se que a leptospirose afete mais de 1 milhão de pessoas anualmente em todo o mundo, resultando em cerca de 60 mil mortes. Segundo o Boletim Epidemiológico da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, entre 2010 e 2020 foram registrados no Brasil 39.270 casos e 3.419 óbitos. A transmissão ocorre principalmente pelo contato com água ou solo contaminados pela urina de roedores infectados, os principais vetores da bactéria Leptospira.

 

A doença é frequentemente associada a enchentes, que expõem as pessoas ao risco de infecção pela água contaminada. Contudo, alguns grupos ocupacionais também estão em risco, como trabalhadores rurais, médicos veterinários, perfuradores de poços, profissionais de redes de esgoto, funcionários de indústrias de processamento de carne e agricultores que cultivam arroz em áreas alagadiças.

 

A precariedade de saneamento básico em muitas regiões agrava o cenário, favorecendo a proliferação de roedores e aumentando a exposição das populações mais vulneráveis. Além disso, a capacidade da Leptospira de sobreviver por meses em condições úmidas e quentes reforça a importância de medidas preventivas adequadas, especialmente durante enchentes e alagamentos.

 

Angela Trabbold | Acadêmica Agência de Comunicação

09/01/25
Ciência em Voga: Projeto do ICB-USP aproxima ciência da comunidade com visitas a escolas e podcast

Realizado por estudantes de graduação e pós-graduação, o projeto destaca a importância do conhecimento científico com atividades práticas e conteúdos de interesse geral.


Alunos de graduação e pós-graduação do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP) realizaram uma atividade extensionista na EE Prof Clorinda Danti, localizada próximo ao Portão 3 da Universidade. O evento ocorreu no dia 23 de novembro e contou com a participação de cerca de 40 alunos do Ensino Fundamental I e de seus pais e responsáveis. Coordenado pela professora do ICB-USP Elisa Mitiko Kawamoto Iwashe e com colaboração de alguns professores do Departamento de Farmacologia, a atividade extensionista “Ciência em Voga” tem o intuito de transmitir o conhecimento científico para a comunidade externa por meio de visitas a escolas e um podcast.

 

Com base nos livros didáticos e nos tópicos destacados pelos professores, os estudantes do ICB-USP organizaram atividades lúdicas e acessíveis para as crianças, abordando temas como o corpo humano, a higienização correta das mãos e o uso responsável de antibióticos no tratamento de infecções bacterianas. O projeto também envolveu os pais e responsáveis, conscientizando-os sobre a importância de seguir as prescrições médicas e o descarte adequado de antibióticos por meio da distribuição de panfletos.

 

Foram realizadas apresentações interativas sobre a anatomia e o funcionamento do corpo humano, além de uma discussão sobre a correta utilização de medicamentos, especialmente os antibióticos. Para avaliar os conhecimentos adquiridos, os alunos participaram de um quiz com o apoio de seus pais. Em seguida, realizaram uma atividade prática de higienização das mãos, visando compreender os riscos de contaminação por microrganismos.

 

“Durante a atividade, as crianças tiveram a oportunidade de se sentirem como cientistas ao participarem de uma simulação de experimento e utilizarem o EPI (Equipamento de Proteção Individual), que é utilizado no nosso laboratório”, conta Josiane Silva, pós-doutora do ICB-USP que coordenou a atividade. Através de um questionário aplicado no fim das atividades, pais e responsáveis avaliaram o evento. “Nós ficamos muito felizes, porque as respostas foram bem positivas. Os pais consideraram que a ação contribuiu positivamente para o aprendizado deles e das crianças”, relata Bianca Rodrigues, mestranda do ICB-USP que também coordenou as atividades.

 

A equipe do “Ciência em Voga” tem planos de continuar com as visitas em escolas no próximo ano e busca apoio financeiro para realizar atividades em locais distantes da USP.  “Em 2024, várias escolas abriram suas portas para nós, mas não conseguimos ir por falta de apoio financeiro para o transporte dos estudantes da Universidade até os colégios”, explica a professora Elisa Mitiko Kawamoto Iwashe. Interessados em ajudar devem entrar em contato por meio do e-mail cienciaemvoga@gmail.com.

 

O projeto também fez ações voltadas para treinamento e aperfeiçoamento dos professores das escolas visitadas. Atendendo a um pedido dos docentes da EE Prof Clorinda Danti, a pós-doutora Josiane Nascimento os ensinou a como utilizar os microscópios da escola, além de fornecer dicas sobre como desenvolver atividades com esta ferramenta que complementem os assuntos teóricos abordados em sala de aula.

 

Público mais amplo – Já o podcast “Ciência em Voga” leva o conhecimento científico para o público através de entrevistas com especialistas. O programa “aborda por uma visão científica temas que estão em voga no momento e são interessantes tanto para a comunidade da USP como para a população em geral”, diz Arthur Cantanzaro, aluno de graduação do Instituto de Biociências (IB) e de Iniciação Científica no ICB, que é o idealizador e apresentador do podcast junto com a pós-doutora Ana Maria Orellana.

 

Até o momento, já foram publicados seis episódios que estão disponíveis no Spotify. Eles tratam de temas variados como saúde mental e jogos de azar, meditação, uso de telas na infância, importância do sono para saúde, melatonina, poluição do ar e um programa especial sobre o Prêmio Nobel.

 

A produção do programa é feita pelo ICB em parceria com o Núcleo de Inovação e Tecnologia do Hospital Universitário (HU) e a Escola de Comunicação e Artes (ECA), todos da USP. Coordenado por Oscar Fugita, o braço do projeto no HU auxilia na escolha e contato com os especialistas, que podem tanto ser membros da Universidade como de instituições externas. Enquanto, sob supervisão do professor Fernando Scavone, os alunos da ECA fazem a gravação e a edição dos episódios, além de gerenciar as redes sociais do “Ciência em Voga”.

 

Ana Carolina Guerra | Acadêmica Agência de Comunicação e NUCOM-ICB

 

19/12/24
Alunos do ICB-USP conquistam medalha de prata na maior competição de biologia sintética do mundo

Equipe formada por membros de diversos institutos da USP desenvolve mecanismo para microrganismos produzirem proteínas humanas.


Equipe do projeto “Glicosinside out”

Equipe do projeto “Glicosinside out”

O projeto “Glicosinside out”, desenvolvido por alunos do Instituto de Ciências Biomédicas da USP (ICB-USP) em conjunto com colegas de outros institutos da USP, ganhou a medalha de prata na International Genetically Engineered Machine (iGEM). Trata-se da principal competição mundial de biologia sintética voltada para alunos de graduação e pós-graduação. A premiação ocorreu no dia 2 de outubro, em evento realizado em Paris.

 

O projeto, sediado no Laboratório de Estrutura e Evolução de Proteínas (LEEP) do ICB-USP, tem como objetivo criar, por meio da engenharia genética, bactérias e leveduras capazes de glicosilar proteínas de forma similar ao que ocorre em células humanas. Essa iniciativa permitirá diminuir os custos de tratamentos médicos da doença de Gaucher, além de ter potencial para ser usada em terapias com proteínas humanizadas, desenvolvimento de vacinas e testes diagnósticos.

 

Competição iGEM – A medalha foi muito comemorada pela equipe, já que o projeto ainda está em seu primeiro ano de desenvolvimento, como conta o aluno do ICB-USP Davi Merighi: “esse foi um resultado bastante satisfatório, porque o nosso projeto foi planejado para ser executado em dois anos, então, uma medalha de prata já [no primeiro ano] sugere que estamos indo pelo caminho certo”.

 

A professora do ICB-USP Cristiane Rodrigues Guzzo Carvalho acrescentou que a medalha é uma grande conquista, principalmente, porque a equipe começou o projeto do zero e este primeiro ano foi mais focado no planejamento.

 

Junto com a alegria descrita pela equipe com a conquista da medalha se soma um misto de emoções que os membros contaram ter sentido durante o desenvolvimento do projeto. O nome “Glicosinside out” é um trocadilho com o filme “Divertidamente”, que tem como tema central as emoções. Inspirado no longa, o grupo produziu um vídeo de apresentação do projeto. Assista aqui.

 

A equipe sediada no ICB-USP foi um dos quatros representantes brasileiros no IGEM 2024. O grupo multidisciplinar é orientado pela professora Cristiane Rodrigues Guzzo Carvalho e tem membros de diferentes institutos e campus da universidade. Conheça aqui o time do projeto.

 

A equipe surgiu em 2012 e desde então apresentou diversos projetos no iGEM com professores orientadores e institutos sede diferentes.

 

Projeto – A ideia do projeto nasceu quando os alunos Cauê Augusto Boneto Gonçalves e Guilherme Camargo Pompeu e Silva, que já faziam parte da equipe, levaram para Cristiane a ideia de desenvolver no Laboratório de Estrutura e Evolução de Proteínas um projeto para o iGEM. A professora propôs desenvolver uma tecnologia para a criação de bactérias que produzissem proteínas de forma similar as proteínas produzidas pelos seres humanos.

 

Cristiane notou a necessidade de criar essa tecnologia durante a pandemia de Covid-19, quando ela trabalhou em uma pesquisa para desenvolver testes e vacinas para combater o novo coronavírus. A ideia surgiu da necessidade de os cientistas disporem de proteínas que eram solúveis do SARS-CoV-2 e outras insolúveis. Porém, o processo para produção das proteínas comerciais é muito caro, o rendimento é baixo e a tecnologia vem de fora do Brasil.

 

Esse processo tem um alto custo. Atualmente, para produzir proteínas similares às humanas é preciso utilizar organismos eucarióticos, e os laboratórios costumam recorrer a tecidos celulares de insetos, células de plantas e células humanas ou de outros mamíferos. Porém, esses organismos demoram muito para crescer e produzem uma quantidade baixa de proteína, o que encarece muito o processo, além dos insumos para o crescimento dessas células serem muito caros.

 

A professora encontrou como solução a produção das proteínas em um modelo microbiano, como as bactérias e as leveduras, já que elas se desenvolveriam mais rápido e os cientistas conseguem modificar esses microrganismos para superexpressar proteínas, ou seja, produzir uma grande quantidade desse material. Esse processo baratearia a produção e, por ser uma tecnologia nacional, tornaria o processo financeiramente mais viável.

 

O desafio do projeto é que as bactérias e leveduras produzam proteínas humanas. Para isso, esses microrganismos passaram pelo processo de engenharia genética, no qual os cientistas modificam geneticamente um ser vivo.

 

Esse processo foi necessário, pois originalmente esses microrganismos produzem proteínas com uma arquitetura diferente das proteínas humanas e, muitas vezes, não realizam a glicosilação, que é a adição de açucares para a produção das proteínas com características humanas.

 

Com a modificação genética, os microrganismos passarão a ser capazes de glicosilar seguindo a arquitetura das proteínas humanas e, assim, reproduzir essas substâncias de forma correta.

 

Para testar a eficiência desse método, a equipe escolheu produzir a enzima glicocerebrosidase, utilizadas no tratamento da doença de Gaucher, em que as enzimas dos pacientes não funcionam e eles precisam receber essas proteínas produzidas artificialmente.

 

Esse tratamento é disponibilizado gratuitamente pelo SUS, mas a um custo elevado para o sistema de saúde. O único mecanismo de produção dessas enzimas atualmente utiliza tecido celular de células de carcinoma humano imortalizado, células de ovário de hamster chinês e células de cenoura geneticamente modificadas, o que eleva o preço do procedimento.

 

Com o Glicosinside out, o tratamento da doença de Gaucher pode ser no mínimo dez vezes mais barato para o SUS. Para calcular o valor exato do mecanismo, ainda é necessário esperar o resultado experimental, que deve acontecer no segundo ano do projeto.

 

Próximos passos – A partir do ano que vem, a previsão é de conseguir obter a proteína glicocerebrosidase a partir dos microrganismos geneticamente modificados e avaliar a qualidade do processo e das proteínas obtidas. A partir disso, a equipe pretende patentear a tecnologia e oferecer ao SUS a proteína por um preço mais barato.

 

No segundo ano do projeto, o time também almeja conquistar uma nova medalha no iGEM. A professora Cristiane espera que seja possível enviar alguns alunos do grupo para participar presencialmente da competição que acontece em Paris.

 

A equipe está em busca de doações que possam custear a ida dos alunos. Além disso, ajudas financeiras também serão utilizadas para o desenvolvimento do projeto, que atualmente não conta com nenhuma verba.

 

As pessoas interessadas em fazer uma doação devem entrar em contato com a equipe por meio do e-mail crisguzzo@usp.br.

 

Ana Carolina Guerra | Acadêmica Agência de Comunicação e NUCOM-ICB

18/12/24
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