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Zebrafish: muito além de um experimento

O modelo experimental foi apresentado pela pesquisadora Mônica Lopes-Ferreira durante o V Workshop em Bioterismo do ICB-USP.


01/10/2019

 

Há mais de 20 anos, a pesquisadora Mônica Lopes-Ferreira, diretora do Laboratório Especial de Toxinologia Aplicada (LETA) do Instituto Butantan e coordenadora de Educação e Difusão do Conhecimento do Centro de Toxinas, Resposta-Imune e Sinalização Celular (CeTICS-FAPESP), vive “mergulhada na água”. A imunologista estuda peixes peçonhentos, mas em 2015 decidiu ir mais longe: com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), começou a utilizar o peixe Zebrafish como modelo animal em suas pesquisas científicas. O projeto foi apresentado durante o V Workshop em Bioterismo do Departamento de Parasitologia do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), que ocorreu entre os dias 17 e 20 de setembro de 2019.

 

Também conhecido como Paulistinha, o “Zebra” é natural de países asiáticos e começou a ser usado como modelo experimental na pesquisa científica em 1981 pelo biólogo George Streisinger. No Butantan, foi a professora Mônica Lopes-Ferreira que desenvolveu o biotério de Zebrafish e hoje é um grande nome no assunto. Um modelo experimental serve para testar novos fármacos e toxicidade de compostos químicos, possibilitando observar seus efeitos antes de submeter o ser humano ao seu uso. Neste tipo de abordagem, geralmente são usados ratos e camundongos, mas atualmente o Zebrafish tem se mostrado um aliado muito útil nas pesquisas.

Aproximadamente 2 mil revisões foram feitas utilizando esse modelo experimental e vários pesquisadores já estão utilizando o peixe em seus estudos. Quando comparado geneticamente, Zebrafish se assemelha em 70% com o ser humano – já na área das doenças, chega a ter uma semelhança de 84%. Outras vantagens do uso do Zebrafish na pesquisa acadêmica são: fácil manipulação; crescimento rápido – leva de 48 a 72 horas para chegar no estágio larval, possibilitando o estudo em todas as fases da vida –; podem ser criados em pequenos espaços e têm uma alta taxa reprodutiva, atingindo de 100 a 200 embriões por dia.

 

Segundo a pesquisadora, saber cuidar do Zebrafish é a chave para o sucesso de uma pesquisa. Ele está acostumado a viver em grupo e no escuro, então o pesquisador deve optar por colocá-los em aquários azuis, por exemplo. Além disso, é importante oferecer uma alimentação variada. O biotério deve possuir um único funcionário encarregado de cuidar dos peixes, para que ele possa reconhecer padrões de comportamento e estabelecer uma rotina.

 

Difusão de conhecimento – Dentro do biotério no Instituto Butantan, o “Zebra” é usado em várias áreas de pesquisa, como câncer, infecção, imunologia, genética, coração e toxicidade, sendo essa a principal área que a pesquisadora pretende desenvolver no uso do peixe. Buscando ampliar o conhecimento desse modelo experimental, Mônica Lopes-Ferreira também criou a Plataforma Zebrafish, que conta com um portal de conteúdo exclusivo sobre o peixe e vários programas de divulgação científica desenvolvidos pela pesquisadora e mantido pelo CeTICS.

 

Um deles é o “Paulistinha chega à escola”, projeto que tem três anos e leva para escolas do Estado de São Paulo o conhecimento sobre o Zebrafish e também sobre a profissão de cientista. “Os alunos passam a entender que cientista é um ser normal – ou deveria ser –, de carne e osso, mulher ou homem, branco ou negro. Eles começam a pensar que podem ser cientistas”, destaca Ferreira.

 

V Workshop em Bioterismo – A apresentação sobre o Zebrafish fez parte do V Workshop em Bioterismo, promovido pelo Biotério do Departamento de Parasitologia do ICB-USP. Com palestras e aulas práticas, o evento contou com a participação de professores e pesquisadores de várias instituições, como Unifesp, Fiocruz e Instituto Butantan. No total, foram 102 inscritos.

 

Os assuntos abordados nas palestras foram desde como garantir o bem-estar do animal de laboratório até legislação, controle sanitário, gestão de biotério e tipos de instalação. Além disso, algumas empresas parceiras do biotério também tiveram espaço para exibirem seus equipamentos e produtos.

 

Segundo Danielle Cristina Gomes Chagas, coordenadora do evento, um dos focos deste workshop é debater a ética envolvida no uso de animais em pesquisa e a importância de promover o bem-estar desses animais. “Estamos em um estágio em que as pessoas acreditam que a ciência de animais de laboratório é feita apenas de maus tratos, o que não é verdade. Enquanto eles estão aqui, fazendo por nós o que precisa ser feito, nós os respeitamos e tratamos da melhor forma possível”.

Aline Tavares | Acadêmica Agência de Comunicação

Rhaisa Trombini | ICB-USP