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Terceira dose reduziu significativamente as chances de infecção pela variante ômicron no Brasil

É o que mostra um estudo feito por diversas instituições de pesquisa do Brasil e EUA. Resultados comprovam a importância do reforço da vacina contra a covid-19, capaz de proteger contra a variante ômicron.

 

Segundo dados do monitoramento realizado pela Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos (EUA), a média de casos de Covid-19 cresceu 1730% no Brasil entre dezembro de 2021 e janeiro de 2022, em decorrência da variante ômicron. No entanto, nesse período, um grupo de brasileiros se manteve mais protegido: aqueles que haviam tomado três doses da vacina. É o que mostra uma pesquisa feita por diversas universidades do Brasil e EUA, cujos resultados foram publicados recentemente no Journal of Medical Virology.

 

O estudo revela que as duas primeiras doses da vacina foram eficazes contra a cepa original da covid-19, mas pouco efetivas contra a variante ômicron. Já a terceira dose conseguiu diminuir as proporções de contaminação em cerca de 50% pela ômicron e pelas subvariantes mais recentes à época. “Isso comprova a importância das vacinas de reforço. Portanto, é preciso fazer com que a população volte a se vacinar e que haja imunizantes atualizados e disponíveis contra variantes que irão surgir”, afirma o coordenador do estudo, o professor Jaime Henrique Amorim, da Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB).

 

O estudo foi realizado em parceria com diversas instituições: Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal do Estado de São Paulo (EPM-UNIFESP) e Universidade Estadual de Santa Cruz, na Bahia. Contou ainda com a colaboração da Plataforma Científica Pasteur-USP (SPPU), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade de Brasília (UnB) e as universidades de Wisconsin‐Madison e Columbia, nos Estados Unidos.

 

Entre janeiro e março de 2022 foram feitas análises em 286 moradores de Barreiras (BA). Desse total, 95 testaram positivo para a covid-19, enquanto 189 testaram negativo. Entre os pacientes com ou sem a terceira dose vacinal, os números de infecção mostraram uma redução à metade no risco de contrair a doença, pois o índice de infecção entre pacientes com duas doses foi de 60% e entre os pacientes com três doses foi de 30%.

 

“Fizemos o sequenciamento genético dos testes positivos e vimos que praticamente todos os casos eram de ômicron. Além disso, coletamos amostras de sorologia [sangue] para identificar quantas doses os pacientes haviam recebido e como foi a produção de anticorpos de cada um. Posteriormente, foram realizados testes de neutralização, nos quais se coloca o vírus diante dos anticorpos para verificar se eles são capazes de impedir a infecção. Os anticorpos de pacientes com até duas doses conseguiram neutralizar o vírus de início de pandemia (cepa de Wuhan), mas foram ineficazes contra a ômicron — ao contrário dos anticorpos de pacientes com três doses”, detalha o pesquisador.

 

“No cenário em que foram feitos os testes, menos de 50% da população da região estava vacinada com três doses, embora fosse veiculada pelos gestores públicos uma falsa ideia de ampla vacinação. Isso porque divulgava-se que mais de 90% da população da região tinha se vacinado, mas não levavam em conta o número de doses de reforço”, afirma Amorim.

 

Outra constatação do estudo bate com os dados oficiais. Apesar de não terem sido suficientes para impedir o contágio, as duas primeiras doses reduziram drasticamente os casos graves da doença. Mais de 99% dos pacientes analisados não estavam internados em hospitais à época do estudo.

 

Na sorologia também foram identificados quais os imunizantes que os pacientes receberam. Foram coletadas amostras de pacientes imunizados com as quatro vacinas utilizadas no Brasil (Coronavac, Pfizer, Jansenn e AstraZeneca), e não houve diferença significativa no grau de proteção conferido por elas. Vale ressaltar que, até o momento da coleta, apenas o imunizante da Pfizer era aplicado na terceira dose.

 

O sequenciamento genético e os testes RT-PCR (para a detecção do vírus) e de sorologia foram conduzidos na UFOB, no campus de Barreiras, onde são realizados exames laboratoriais para o sistema de saúde pública do município. Em São Paulo foram realizados os testes de neutralização em laboratórios de nível 3 de biossegurança. Esses exames aconteceram no Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas, coordenado pelo professor Luís Carlos de Souza Ferreira do ICB-USP, e no Laboratório de Retrovirologia, coordenado pelo professor Luiz Mário Ramos Janini na EPM-UNIFESP.

 

A pesquisa obteve financiamento de diversas instituições de fomento: Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI); Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP); Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq); Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP); Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES); e Instituto Serrapilheira.