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Vencedora do Prêmio Tese Destaque USP 2020 consegue reativar célula do sistema imune de pacientes com HIV

Os resultados podem ser importantes para o desenvolvimento de vacinas terapêuticas e a melhora do desempenho de vacinas profiláticas nesse público.


23/10/2020

 

A primeira tese de doutorado orientada pela professora Alessandra Pontillo, do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), desenvolvida pela aluna Edione Cristina dos Reis, foi vencedora da categoria Ciências Biológicas do Prêmio Tese Destaque USP 2020. Usando uma proteína bacteriana, a flagelina, a equipe do Laboratório de Imunogenética conseguiu resgatar a resposta imune de células dendríticas de pacientes com HIV. Isso pode ser útil não só para a criação de uma vacina terapêutica futuramente, como para melhorar a eficácia de vacinas profiláticas para esses indivíduos. A cerimônia de premiação online acontecerá no dia 18 de novembro e os alunos vencedores receberão um prêmio de R$ 10 mil.

 

“O paciente com HIV apresenta uma inflamação crônica. Essa inflamação trabalha contra ele, porque ele não consegue responder às infecções como um indivíduo saudável”, explica Pontillo. Alguns estudos já utilizavam a flagelina para recuperar a resposta de células do sistema imune – como macrófagos e monócitos – de pacientes com doenças genéticas em componentes do inflamassoma. Então, as pesquisadoras escolheram testar essa proteína nas células dendríticas em pacientes com HIV. A flagelina também é utilizada nos Estados Unidos como adjuvante vacinal. “Nosso alvo foram as células dendríticas porque, além de terem um papel central na imunologia, são utilizadas para fazer vacinas terapêuticas. Ao corrigir o defeito dessas células, é possível deixá-las mais preparadas para executarem a sua função em uma eventual vacina terapêutica”, acrescenta a pesquisadora.

 

A pesquisa foi feita in vitro com células de 30 pacientes da Casa da Aids, do Hospital das Clínicas da USP. Além de testar a flagelina nas amostras, a equipe fez uma análise genética para confirmar se nenhum dos pacientes tinha alguma variação genética que pudesse influenciar positivamente a resposta. De acordo com a professora, os dados obtidos são relevantes independentemente do desenvolvimento de vacinas terapêuticas. “O estudo indica que existe uma forma de ativar uma resposta imune nos pacientes com HIV, o que vale também para as vacinas profiláticas, que muitas vezes não são tão eficazes nesses indivíduos. Geralmente eles precisam receber muitas doses das vacinas e, às vezes, nem assim conseguem desenvolver uma resposta”.

 

Diante da importância do trabalho, a professora Alessandra Pontillo sugeriu que a aluna se inscrevesse para o Prêmio Tese Destaque. “A própria banca comentou sobre o prêmio, então submetemos. O projeto passou por uma comissão do próprio Departamento de Imunologia e a minha tese foi escolhida para representar o departamento”, conta Edione Reis. “Foi um projeto que começou simples, cresceu e envolveu cada vez mais pessoas. Conseguimos aprender várias técnicas para chegar nesses resultados. O estudo trouxe muitas coisas valiosas além do prêmio”, afirma a orientadora.

 

A equipe do Laboratório de Imunogenética segue trabalhando em outro projeto para tentar caracterizar outros aspectos de pacientes de HIV, fazendo um mapa de todas as células do sistema imune. “Hoje os indivíduos infectados pelo HIV apresentam menos risco de morte devido à terapia anti-retroviral, mas continuam sofrendo com complicações relacionadas a inflamações crônicas, aumento de risco cardiovascular, diabetes tipo II, entre outras questões. Estamos tentando preencher as lacunas do conhecimento do sistema imune desses pacientes”, conclui Pontillo.

 

O projeto vencedor do prêmio foi financiado pela CAPES e pela FAPESP e realizado com bolsa de doutorado FAPESP, nº 2015/17373-0.

 

Bruna Anielle | ICB-USP