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Vacinas na luta contra o câncer: uma nova alternativa para o tratamento de tumores causados pela infecção com papilomavírus humano

17/06/2019

Pesquisadores do Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) desenvolveram vacinas para o tratamento de tumores associado ao papilomavírus humano (HPV), particularmente o HPV-16, responsável por pelo menos 50% dos casos de câncer de colo de útero. As pesquisas foram iniciadas há cerca de 15 anos, sob a liderança do Prof. Dr. Luís Carlos de Souza Ferreira, e até então, restritas a testes em animais.

 

O trabalho resultou no desenvolvimento de formulações que, ao contrário de outras formas de imunoterapia antitumoral baseadas em anticorpos monoclonais ou linfócitos modificados em laboratório, promovem uma reprogramação ativa do sistema imunológico de camundongos transplantados com tumores que expressam antígenos do HPV-16. O resultado final foi a descoberta de formulações vacinais que após duas doses, levam à remissão completa dos tumores em 100% dos camundongos tratados e que, além disto, impedem a recidiva do tumor mesmo após reimplante de novas células tumorais.

 

Segundo a Dra. Bruna Felício Milazzotto Maldonado Porchia, as formulações vacinais são baseadas em antígenos do HPV-16, um componente de outro vírus envolvido com infecções sexualmente transmissíveis, o vírus herpes, e compostos que amplificam as respostas imunológicas, também conhecidos como adjuvantes. “Nos modelos animais, os resultados foram surpreendentes. Quando implantamos as células tumorais e, posteriormente, imunizamos os camundongos, a vacina impediu o desenvolvimento do tumor. Quando associada a um quimioterápico usualmente empregado no tratamento desse tipo de tumor, os efeitos foram ainda mais impressionantes com remissão completa de tumores em estágio avançado”. A estratégia terapêutica, baseada no princípio de imunoterapia ativa confere memória imunológica de longa duração e pode representar uma nova alternativa para o tratamento de câncer causado pelo HPV”, relata a pesquisadora.

 

No começo deste ano, em parceria com a equipe liderada pelo Prof. Edmund Chada Baracat, responsável pela Divisão de Clínica Ginecológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, com a participação dos professores José Maria Soares Jr e Maricy Tacla, e com a equipe liderada pelo Prof. Dr. José Alexandre Marzagão Barbuto, responsável pelo Laboratório de Imunologia de Tumores do ICB-USP, foram iniciados os primeiros testes da nova abordagem terapêutica antitumoral em mulheres com lesões pré-malignas no colo do útero, mas que ainda não desenvolveram tumores.

 

O estudo clínico tem como objetivo avaliar a regressão das lesões e a ativação do sistema imunológico das pacientes antes que se iniciem os tratamentos convencionais previstos para essas condições patológicas. O tratamento em teste une duas linhas de pesquisa do ICB para o combate ao câncer. A equipe do Laboratório de Imunologia de Tumores tem utilizado células dendríticas contra câncer em diversos contextos clínicos, com resultados muito promissores, mas a metodologia é restrita pela necessidade de obtenção cirúrgica de tumores dos pacientes.

 

No contexto atual, a capacidade estimuladora e a especificidade do antígeno vacinal presente na vacina desenvolvida pelo Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas trazem novas perspectivas ao tratamento. Assim, células do sangue das pacientes, após um período de modificações funcionais in vitro, são tratadas com o antígeno vacinal, e, em conjunto agora, constituem a vacina que é aplicada nas pacientes.  O princípio do tratamento é a utilização das células dendríticas que são ativadas pela vacina e “apresentam” os antígenos tumorais a outras células do sistema imunológico, como os linfócitos T, que, por sua vez, reconhecem e dão início à destruição do tumor. “Nós colhemos sangue da paciente, diferenciamos células precursoras do sangue em células dendríticas e as estimulamos com os componentes da vacina. Em seguida, reintroduzimos essas células de volta à paciente por meio de uma injeção intradérmica. A expectativa é que as células estimuladas com a vacina reprogramem o sistema imunológico de maneira que possa reconhecer e eliminar as lesões”, explica a Dra. Bruna Maldonado.

 

Vantagens e expectativas – De acordo com a pesquisadora, as vacinas atualmente disponíveis contra o HPV têm função profilática, ou seja, de prevenir a infecção pelo vírus. Já a vacina terapêutica, objeto de estudo do grupo, está voltada para pessoas que já foram infectadas e apresentam lesões pré-malignas ou tumores, seja no colo do útero ou em outros locais do corpo, como anus, cabeça e pescoço. “Em geral, pacientes com lesões pré-malignas são submetidas a um procedimento cirúrgico para retirar a lesão – nesse caso, o benefício é imediato. No entanto, dependendo da extensão da lesão, o procedimento invasivo pode ser ineficaz, trazer efeitos traumáticos e não evitar recidivas. A vacina é uma alternativa terapêutica menos invasiva e esperamos que impeça as recidivas”.

 

As vacinas, de forma geral, são capazes de proteger o indivíduo por um longo período, pois promovem a memória imunológica – ou seja, ao ser exposto novamente ao agente infeccioso, o sistema imunológico responde de forma eficiente.  Desta forma, segundo a Dra. Bruna Maldonado, a expectativa é que os testes clínicos demonstrem a eficácia e a segurança da nova estratégia terapêutica.

 

 

Aline Tavares | Acadêmica Agência de Comunicação