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Uso tópico de nanofármacos contendo doadores de H2S pode ser eficiente para tratar psoríase

Descoberta por pesquisadores do ICB-USP, nova estratégia de tratamento pode substituir parcialmente o uso de corticoides e evitar seus efeitos adversos.


26/03/2019

 

Com base em estudos realizados no Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), foi proposto um novo método de tratamento para a psoríase, doença inflamatória crônica e imunomediada, com manifestações cutâneas (vermelhidão, descamação e placas na pele) e sistêmicas. A pesquisa mostrou os benefícios da aplicação tópica na pele, na forma de loção, gel ou creme, de nanocarreadores contendo compostos doadores de sulfeto de hidrogênio (H2S). Essa molécula é capaz de inibir a produção de citocinas que estimulam a instalação do processo inflamatório – elas são produzidas em grandes quantidades em pacientes com psoríase ou outras inflamações crônicas. As preparações farmacêuticas de doadores de H2S já foram patenteadas pelo grupo.

Os efeitos farmacológicos do H2S na psoríase foram descobertos no laboratório dos professores Soraia Costa e Marcelo Muscará, do Departamento de Farmacologia do ICB. A equipe testou uma terapia com doadores de H2S por aplicação sistêmica (injeções intraperitoneais) para tratar a doença. A partir dos testes pré-clínicos, descobriu-se que a substância é capaz de atuar beneficamente no tratamento dessa inflamação, inibindo a produção de citocinas pró-inflamatórias.

O passo seguinte foi integrar essa descoberta às pesquisas da equipe da professora Luciana Lopes, também do Departamento de Farmacologia, que se concentram na formulação de nanofármacos, visando a melhora da eficácia terapêutica e a redução dos efeitos adversos de fármacos. Foi nesta etapa que foi desenvolvida a estratégia de nanocarreadores com os compostos doadores de H2S. “É um desafio atravessar o estrato córneo para chegar às camadas da pele onde se desenvolve a doença – por isso usamos os nanocarreadores. Por outro lado, dependendo da profundidade e extensão da penetração cutânea, pode haver absorção e efeitos sistêmicos [em todo o corpo]. Assim, outro desafio foi localizar o fármaco na pele para obter apenas o efeito local”, explica Luciana Lopes.

Uma alternativa mais segura – O tratamento tradicional para a psoríase envolve o uso de corticoides – medicamentos que apresentam uma série de efeitos colaterais indesejados. Com o uso prolongado destes fármacos, os pacientes podem desenvolver alguns quadros clínicos adversos, tais como a síndrome de Cushing (ganho de peso ao redor do tronco e perda de massa nos braços e pernas), maior suscetibilidade a infecções, diminuição da espessura da pele e até supressão da função das glândulas suprarrenais.

“Os nanofármacos de compostos doadores de H2S podem substituir ou diminuir o uso do corticoide em casos não severos de psoríase. Por exemplo, seria possível iniciar o tratamento com essa alternativa para controlar a doença e só aplicar o corticoide quando necessário. Isso evitaria ou reduziria os efeitos adversos que o uso prolongado destes medicamentos ocasiona”, esclarece Soraia Costa.

As pesquisas são fruto da dissertação de mestrado de Tuanny Schimidt e da tese de doutorado de Leandro Rodrigues, orientados pela professora Soraia Costa.

 

Aline Tavares | Acadêmica Agência de Comunicação