A laureada recebeu o prêmio por projeto que busca biomarcadores para diagnóstico da malária placentária, forma específica de infecção em que o parasita se aloja na placenta da gestante.
A Dra. Jamille Gregório Dombrowski, pós-doutoranda do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) e bolsista FAPESP, recebeu menção honrosa no “Prêmio Pós-Doc USP” por seu projeto “Identification of Predictive Biomarkers of Placental Dysfunction in Malaria”. O trabalho, que faz parte do Programa de Pós-Graduação em Biologia da Relação Patógeno-Hospedeiro, tem a supervisão do Prof. Claudio Marinho, docente do Departamento de Parasitologia do Instituto.
Fruto de trabalhos anteriores da pesquisadora com a malária durante a gravidez, o estudo surgiu da necessidade, percebida por ela, da busca de formas mais eficientes de diagnosticar a doença em gestantes. “Quando o parasita infecta a gestante e atinge a placenta, o diagnóstico para malária placentária só poderá ser feito no momento do parto. Quando chega nesse ponto, não há muita margem para ação: o bebê já nasceu com baixo peso, ou a mulher teve um aborto, ou um parto prematuro”, explica Dombrowski, que integra o Laboratório de Imunoparasitologia Experimental do ICB. Dessa forma, a pesquisa é focada em identificar novos biomarcadores para diagnosticar a doença ainda durante a gestação.
Uma consequência adversa grave da malária gestacional, a malária placentária ocorre quando o protozoário causador da doença deixa de circular apenas no sangue periférico e se aloja na placenta da gestante, atingindo também esse órgão. Apesar de não representar todos os casos, a infecção é frequente — estudos mostram que ela pode afetar mais de 50% das gestantes infectadas.
A pós-doutoranda também explica a diferença entre os parasitas. O Plasmodium vivax, prevalente aqui no Brasil, não adere ao tecido placentário, ao contrário do Plasmodium falciparum, espécie que gera manifestações mais graves. “O parasita fica aderido ao tecido placentário, o que dificulta a sua eliminação e pode causar um intenso processo inflamatório, o principal motivo dos efeitos adversos que nós observamos nesses quadros”.
A doença no Brasil — Sobre a incidência atual da malária no Brasil, Dombrowski menciona um estudo publicado pelo grupo na revista Lancet Americas, que apresenta um levantamento realizado entre 2004 e 2018, o qual demonstra que a grande maioria dos casos de malária gestacional no Brasil se concentra na região amazônica. “Sabemos que é uma região com poucos recursos, e apesar de já termos o diagnóstico e o tratamento de forma precoce nas infecções convencionais, estamos observando que ainda há esses efeitos adversos nas gestantes, que representam cerca de 5,8% dos casos de malária entre as mulheres em idade fértil no Brasil”, esclarece.
O diagnóstico funciona de duas maneiras. No caso da malária gestacional, o exame é idêntico ao dos indivíduos em geral: por microscopia (gota espessa – padrão ouro) através da coleta de sangue por punção digital da paciente. No caso da malária placentária, o exame é feito com a coleta do sangue placentário para análise por microscopia e confirmado por histologia — análise do tecido afetado —, e necessita de um profissional altamente qualificado para realizar a coleta adequada de uma amostra da placenta logo após o parto, conservá-la e analisá-la em laboratório. Há também a opção de diagnóstico por biologia molecular. Esta alternativa, contudo, é inviável nas regiões mais afetadas pela doença, por ser uma técnica de alto custo, que necessita de infraestrutura especializada.
Uma possibilidade, investigada pela doutora no trabalho premiado, seria buscar no próprio sangue periférico das gestantes proteínas que indiquem alterações, causadas pela infecção, na formação e desenvolvimento da placenta. O estudo acompanhou 600 mulheres durante todo o período gestacional, concentrando-se na primeira infecção, quando esta ocorre no primeiro ou no segundo trimestre da gravidez. Após coletado o sangue, foi feita a separação do plasma, que foi analisado utilizando técnicas diversas para detecção de biomarcadores. “A ideia, ao final, é encontrar e padronizar um conjunto de biomarcadores que possam ser facilmente mensurados durante os exames de pré-natal, utilizando os equipamentos encontrados na rede pública de saúde, para o diagnóstico precoce das alterações ou lesões placentárias associadas à infecção na gestação”, explica.
Do painel de 30 biomarcadores, já foram obtidos os resultados de 15. O objetivo é reduzir o escopo a uma combinação de até cinco, com base em parâmetros diversificados de alterações e lesões placentárias, e por fim utilizá-los no diagnóstico. A mensuração deve ser concluída até o fim deste ano, e o estudo até maio do ano que vem.
Como foi a premiação — A premiação da pesquisadora, na categoria “Ciências da Saúde”, fez parte da última edição do Congresso de Pós-doutorandos da USP, que ocorreu nos dias 17, 18 e 19 de outubro. O evento, que teve como tema “Papel e Perspectivas dos Pós-Docs no Brasil”, contou com diversas palestras e workshops, além das apresentações dos trabalhos.
A pesquisadora destacou a importância das atividades do congresso, que viu como uma oportunidade para “sair da bolha” e conhecer o que outros pós-doutorandos estão fazendo. Sobre as atividades, ela ressalta as que tiveram como tema o financiamento de pesquisa e a mobilidade na carreira. “Foi muito bom ter entendido que a nossa carreira pode seguir por diversos caminhos. Também gostei das apresentações sobre as formas de financiamento de pesquisa no Brasil, e da oportunidade de ouvir, num mesmo ambiente, representantes das principais agências de fomento e canais de financiamento da ciência”.
Por Felipe Parlato | Editado por NUCOM-ICB