Entre em Contato
Plataforma SociaLab leva ciência e educação a mais de 1.000 escolas no Brasil

Iniciativa idealizada por professor do ICB-USP distribui materiais de laboratório, promove projetos de pesquisa e capacitação para professores em todos os estados brasileiros.


Fundada em 2019 como uma startup para combater o desperdício e compartilhar materiais de laboratório excedentes entre pesquisadores, a SociaLab evoluiu, ao longo de 2024, para uma plataforma educacional abrangente. Hoje, a iniciativa distribui gratuitamente materiais de laboratório para mais de 1.000 escolas — a maioria delas públicas — espalhadas pelos 27 estados brasileiros. A plataforma também promove projetos de ciência cidadã, aulas online e workshops com apoio de professores e pesquisadores.

 

Sob a coordenação de Lúcio Freitas-Júnior, docente do Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biomédicas da USP (ICB-USP), o novo escopo do projeto surgiu para atender à crescente demanda de professores de escolas públicas, que solicitavam doações pelas redes sociais da plataforma para estruturar laboratórios de ciências — muitas vezes inexistentes nas instituições.

 

“Nos comovemos com as centenas de relatos que recebemos e percebemos o quão desigual é o acesso a laboratórios de ciências”, relata Freitas-Júnior. “Em um levantamento realizado com mais de 1000 escolas cadastradas, constatamos que 53% das escolas não possuem laboratórios e que 70% daqueles existentes não recebem financiamento regular. Além disso, 27% dependem de verbas pessoais dos próprios professores e diretores para realizar atividades práticas em laboratórios de ensino de ciências.”

 

Diante desse cenário, o professor começou a distribuir materiais em perfeito estado doados por empresas e que não poderiam mais ser comercializados pelo fato de estarem próximos ao vencimento ou vencidos.

 

“Isso só foi possível graças à legislação brasileira, que permite que materiais não perecíveis, originalmente destinados à pesquisa e fora do prazo de validade, sejam utilizados para fins de ensino. Assim, conseguimos reaproveitar itens como plásticos de laboratório, ainda em perfeitas condições”, explica Freitas-Júnior.

 

“Iniciamos essas doações em outubro de 2023 e seguimos com os envios desde então. Apesar de recebermos muitas ofertas de doação de materiais por parte de empresas, enfrentamos limitações tanto na capacidade de armazenamento quanto na logística de envio para diferentes municípios brasileiros.”

 

Segundo ele, a iniciativa também contribui para solucionar um problema ambiental. “Quando o prazo de validade expira, muitos fornecedores precisam descartar materiais não vendidos, frequentemente recorrendo à incineração, que além de custosa, é prejudicial ao meio ambiente. Com nossas doações, conseguimos aliar utilidade e sustentabilidade”, complementa.

 

Workshops e Aulões – Freitas-Júnior percebeu que a maioria dos professores necessitava de suporte para integrar os materiais enviados às atividades pedagógicas. Para atender a essa demanda, a SociaLab passou a oferecer aulões online de biologia e física, conduzidos por professores e pesquisadores da USP.

 

Para ampliar o impacto nas escolas, foram promovidos workshops com experimentos científicos que evoluíram para projetos de ciência cidadã. Essas iniciativas permitiram que professores e estudantes colaborassem diretamente com pesquisadores na coleta e análise de dados, promovendo uma interação prática e enriquecedora. Todas as atividades incluíram a emissão de certificados, chancelados pela USP, agregando valor à experiência educacional.

 

“Recebemos inscrições de mais de 300 escolas para essas aulas e workshops. O sucesso foi tão grande que muitas escolas incorporaram os projetos aos seus calendários letivos”, conta Freitas-Júnior. Algumas escolas, como o Centro Educa Mais Domingos Vieira Filho, em Paço do Lumiar (MA), e a Cooperativa Educacional Nossa Senhora de Fátima, em Mateus Leme (MG), receberam prêmios em feiras de ciências e reconhecimento de secretarias estaduais de educação devido ao impacto inovador da iniciativa.

 

Vigilância Epidemiológica – Um dos projetos de maior destaque é voltado para a captura do mosquito Aedes aegypti, com o objetivo de monitorar arboviroses como dengue, chikungunya, zika e febre amarela. Nesse projeto, estudantes constroem armadilhas chamadas “mosquitoeiras”, utilizando materiais recicláveis, como garrafas PET, fitas isolantes e lixas, para capturar mosquitos e suas larvas.

 

A perspectiva para 2025 é de expansão. “Pretendemos ampliar a distribuição de materiais, promover novos aulões e expandir os projetos de ciência cidadã”, afirma Freitas-Júnior. Entre as novidades está a introdução da análise genética de mosquitos e dos vírus que eles transmitem como parte de uma disciplina de extensão universitária, envolvendo 50 alunos e 10 professores. “Queremos criar uma rede nacional com a participação das escolas para identificar a distribuição dos vírus causadores de arboviroses e seus vetores”, explica o professor.

 

“Essa é uma oportunidade única de levar o conhecimento acadêmico para além dos muros da universidade. Nosso objetivo é democratizar a ciência e inspirar jovens e professores a se engajarem, mostrando que todos podem contribuir para o progresso científico”, conclui.

 

A SociaLab segue como exemplo de como iniciativas inovadoras podem transformar a realidade da educação científica no Brasil.

 

Gabriel Martino | Acadêmica Agência de Comunicação e NUCOM-ICB