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Pesquisa da USP sobre hormônios sexuais femininos e sensibilidade à dor recebe reconhecimento no congresso da SBNeC

Estudo reforça a relevância da pesquisa básica para o desenvolvimento de tratamentos personalizados que considerem as diferenças entre os sexos


A influência dos hormônios sexuais na sensibilidade de dor em fêmeas é o tema de um estudo da Universidade de São Paulo (USP) que recebeu menção honrosa na categoria de neurociência de sistemas no Congresso da Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento (SBNeC), realizado em outubro deste ano. A pesquisa “Influência do ciclo estral na dor neuropática induzida em ratas Wistar” foi realizada por Natasha Farias Marques em seu mestrado no Programa de Pós-graduação em Biologia de Sistemas do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP. Sob orientação da professora Marucia Chacur, o trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Neuroanatomia Funcional da Dor do ICB-USP, com apoio de outros pesquisadores do grupo.

 

O objetivo do estudo foi contribuir para a compreensão de como os hormônios sexuais femininos influenciam as respostas à dor. “Nosso trabalho mostrou que a sensibilidade à dor nas fêmeas varia conforme o ciclo estral, sendo maior na fase diestro, que corresponde a uma redução dos níveis hormonais. A progesterona, quando administrada em ratas com os ovários removidos, demonstrou efeito protetor contra a dor, enquanto o estradiol não apresentou diferenças significativas até o atual estágio da pesquisa”, resume Marques.

 

Segundo Chacur, isso reforça a necessidade de incluir fêmeas nas pesquisas básicas e, futuramente, desenvolver tratamentos personalizados que levem em conta as diferenças entre os sexos. “O sexo é amplamente negligenciado nas pesquisas básicas, e a maioria dos estudos utiliza apenas machos, cujos resultados não sofrem variações significativas causadas por hormônios”, destaca.

 

No entanto, isso vem mudando. Algumas publicações científicas, como o British Journal, por exemplo, passaram a aceitar somente artigos cujas pesquisas incluam fêmeas e machos. O assunto também ganhou visibilidade na Campanha Global de 2024 da Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP, na sigla em inglês) que tem o tema Disparidades Sexuais e de Gênero na Dor (Sex and Gender Disparities in Pain).

 

Impactos e técnicas utilizadas na pesquisa – Para avaliar a sensibilidade à dor em diferentes fases do ciclo estral, o estudo utilizou métodos éticos e padronizados de estímulo doloroso, como testes de pressão na pata e estímulos táteis. Além disso, foi realizada a coleta diária de lavado vaginal, procedimento semelhante ao exame Papanicolau, mas menos invasivo, para identificar as fases do ciclo.

 

Parte das ratas foi submetida à ovariectomia, um procedimento que consiste na retirada dos ovários, simulando uma condição de menopausa. A reposição hormonal com progesterona e estradiol permitiu identificar como esses hormônios afetam a percepção da dor. “As ratas que receberam progesterona apresentaram menor sensibilidade à dor, sugerindo um efeito protetor do hormônio. Já o estradiol não demonstrou impacto significativo nesse modelo experimental”, explica Marques.

 

Embora ainda em fase inicial, os resultados reforçam a relevância da pesquisa básica como base para avanços futuros. “Trabalhos como este são fundamentais para orientar novas investigações que podem levar a tratamentos mais eficazes e personalizados”, destaca Chacur.

 

Reconhecimento internacional – Após a conquista da menção honrosa no congresso da SBNeC, o trabalho será apresentado no 14º Congresso da Federação Europeia da Dor (EFIC, na sigla em inglês), que acontecerá em Lyon, na França, em abril de 2025. Com apoio do Programa de Pós-graduação em Biologia de Sistemas do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB-USP), Marques compartilhará as descobertas com cientistas de todo o mundo.

 

Conheça mais do trabalho do Laboratório de Neuroanatomia Funcional da Dor do ICB-USP no instagram e no site.

 

Ana Carolina Guerra | Acadêmica Agência de Comunicação e NUCOM-ICB