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Novos horizontes para o tratamento de doenças neurológicas

 Várias pesquisas sobre o tema foram apresentadas durante o Workshop Molecular, Cellular and Behavioral Aspects of Neurological Disorders, iniciativa do ICB-USP.


03/12/2019

 

O Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) promoveu em São Paulo, nos dias 25 e 26 de novembro, o Workshop Molecular, Cellular and Behavioral Aspects of Neurological Disorders. Organizado pela professora Marilene Hohmuth Lopes, professora do Departamento de Biologia Celular e do Desenvolvimento do ICB-USP, em parceria com Flávio Henrique Beraldo de Paiva, professor da Universidade Western Ontario (UWO), no Canadá, o evento faz parte do acordo de mobilidade internacional firmado entre as duas instituições, por meio do programa SPRINT (São Paulo Researchers in International Collaboration) da Fapesp.

“O workshop foi uma oportunidade para pesquisadores, tanto da UWO quanto do ICB, apresentarem suas linhas de pesquisa sobre doenças neurológicas. A ideia é que a colaboração se estreite para fomentar novos projetos conjuntos de pesquisa”, explicou a professora Marilene Lopes, que realiza parte de suas pesquisas sobre células-tronco no Canadá.

No total, participaram 13 palestrantes, sendo três do Canadá. Foram discutidas diferentes abordagens para desvendar os mecanismos de ação específicos que controlam doenças neurológicas — Alzheimer, Parkinson, Transtorno do Espectro Autista, Esclerose Lateral Amiotrófica —, como metabolismo, modelos IPSCs (células-tronco pluripotentes induzidas), proteostase, idade, modelo animal, comportamento e optogenética.

Uma das palestrantes, a professora Elisa Mitiko Kawamoto, do Departamento de Farmacologia do ICB-USP, apresentou um estudo apontando a relação de dietas que envolvem jejum, conhecidas como intermittent fasting (IF), e doenças neurodegenerativas – as quais apresentam fatores de riscos como idade, genética e estilo de vida, entre outros. Na pesquisa, Kawamoto aponta que uma dieta composta de períodos de jejum pode ajudar a reduzir o risco de desenvolver essas doenças.

O corpo responde ao jejum desencadeando uma série de respostas adaptativas conhecida como hormese, que pode reduzir o estresse oxidativo, a inflamação e o dano no DNA. Um dos efeitos do jejum é a liberação de corpos cetônicos durante a queima de gordura, componente usado na produção de energia no corpo.

Durante os testes, a pesquisadora submeteu dois grupos de ratos a duas dietas: uma com intervalos de jejum e outra sem. Depois de 30 dias, injetou LPS (lipopolissacarídeo), uma molécula presente na membrana celular de bactérias que causa inflamação e, consequentemente, prejuízos na memória. Em seguida, ao avaliar os resultados, ela verificou que os animais que foram submetidos ao jejum intermitente foram pouco afetados pela inflamação em termos de memória.

Em outro teste, Kawamoto buscou mimetizar o efeito do jejum intermitente usando fitoquímicos, substâncias que imitam os efeitos da restrição calórica no corpo. Para isso, um grupo de animais foi submetido à dieta com cúrcuma (açafrão da terra), que contém curcumina, antes de receber a molécula LPS. A curcumina apresentou bons resultados ao atenuar os prejuízos de memória causados pela molécula.

A professora Patrícia Beltrão-Braga, do Departamento de Microbiologia do ICB-USP, abordou suas pesquisas a respeito do Transtorno do Espectro Autista e da Síndrome Congênita causada pelo Zika Vírus, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti.

Em casos de autismo, os estudos apontaram que o astrócito, célula que faz a ligação do neurônio com o sangue, libera muita interleucina 2 (IL-2), uma citocina secretada pelo sistema imunológico que pode ser tóxica se liberada em grande quantidade. Ao aplicar IL-2 de um paciente neurotípico nos neurônios de um paciente com o espectro, o grupo notou que as sinapses e ligações do neurônio melhoraram.

Essas pesquisas tiveram o apoio do Projeto Fada do Dente, uma iniciativa que usa dentes de leite doados, tanto de crianças com autismo quanto sem, que passam pelo processo de IPSCs (células-tronco pluripotentes induzidas). A técnica transforma células-tronco da polpa do dente em células pluripotentes que podem ser transformadas em qualquer outra.

A parceria entre o ICB-USP e a UWO seguirá no evento XX Congress of the Brazilian Society of Cell Biology, em julho de 2020, que também contará com a participação de docentes da universidade canadense.

 

Rhaisa Trombini | ICB-USP