Importância da ciência para o desenvolvimento econômico e social do país guiou a discussão que reuniu docentes do Instituto e convidados. Evento fez parte da programação da 19ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia.
Como parte da programação da 19ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, o Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) realizou, na última quarta-feira, 19 de outubro, uma mesa redonda com o intuito de debater o passado, o presente e o futuro da ciência no Brasil. O evento presencial contou com transmissão pelo YouTube; a gravação está disponível aqui.
Organizada pela Comissão de Cultura e Extensão do ICB (CCEx), a mesa redonda teve a presença dos docentes do Instituto Luis Carlos de Souza Ferreira, Carlos Frederico Martins Menck e Letícia Veras Costa Lotufo. E dos convidados Paulo Saldiva, professor do Departamento de Parasitologia da Faculdade de Medicina da USP, e Paola Minoprio, coordenadora da Plataforma Científica Pasteur USP. A mediação ficou por conta das professoras Rita de Cássia Café Ferreira e Soraia Pereira Costa, integrantes da CCEx.
O evento foi dividido em dois blocos. No primeiro, os convidados fizeram apresentações sobre diferentes assuntos relacionados ao tema; no segundo, debateram sobre perguntas feitas pelo público e pela mediação. Entre todos os tópicos apresentados, foi sempre ressaltada a importância do conhecimento científico para a sociedade. “A ciência é a alavanca para o desenvolvimento econômico de um país. É a solução para deixar de ser colônia. Ela promove, por mais distante que possa parecer, justiça social”, resumiu Menck, vencedor da edição de 2021 do prêmio Nature Awards for Mentoring in Science, que reconhece docentes que ajudam a moldar a carreira de jovens pesquisadores.
Em sua apresentação, Luis Carlos de Souza Ferreira, coordenador do Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas e diretor do ICB entre os anos de 2017 e 2021, ressaltou a importância de parcerias entre a academia, o setor privado e organizações sociais como forma de levar as descobertas científicas à população. Ele citou, por exemplo, a criação de startups por ex-alunos, o acordo para a implantação de uma unidade do Instituto Pasteur em São Paulo e a inauguração do Centro de Inovação em Fármacos (CEINFAR), unidade credenciada da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) na USP. “Tenho me dedicado de forma bastante ativa para a construção de parcerias que levem ao desenvolvimento tecnológico, trazendo benefícios para ciência, recursos financeiros e oportunidades de trabalho”, afirma.
Já o professor Menck, coordenador do Laboratório de Reparo de DNA, deu ênfase ao sistema favorável à pesquisa que o Brasil construiu desde o início dos anos 2000. “Estamos formando muita gente boa em lugares remotos do país, que contam com institutos de pesquisa de ponta. Trata-se de um país com mais de 4.500 programas de e 7.000 cursos de pós-graduação. Há um potencial incrível a ser explorado, e que colhemos frutos quando o investimento do Ministério da Educação foi capaz de dobrar o número de vagas em universidades federais entre 2002 e 2010. Precisamos garantir que o investimento nesse ministério e no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações volte, pois o cientista é a profissão do futuro”.
Seguindo o mesmo raciocínio, a professora Lotufo, coordenadora do Laboratório de Farmacologia de Produtos Naturais Marinhos, citou a expansão da produção científica brasileira nos últimos anos e os cortes no orçamento federal para pesquisa que se iniciaram em 2016. E deu ênfase aos problemas ambientais que o país tem que enfrentar com caráter de urgência. “A ciência é o único caminho para o desenvolvimento sustentável. É preciso utilizá-la para conter as mudanças climáticas, que já podem ter atingido um patamar irreversível. Isso é possível por meio da valorização e preservação da nossa biodiversidade, que além de estabilizar o clima e nos fornecer oxigênio, pode nos oferecer soluções para diversos problemas que enfrentamos”.
Já Saldiva, que há mais de 25 anos pesquisa os efeitos da poluição do ar na saúde, dedicou parte de sua fala para refletir sobre o papel do pesquisador e do docente. Para ele, é importante fazer ciência e ensinar ciência pensando, em primeiro lugar, na população. “Precisamos promover uma formação humanitária. Temos que ir além das nossas funções, é necessário pensar se as grandes descobertas que tivermos vão servir para aqueles que mais precisam e em como vamos acessar e informar essa população. Principalmente no ICB, um local que está na fronteira do conhecimento”.
Enquanto os demais focavam mais no presente e no futuro, Minoprio fez um resgate do passado. A pesquisadora, que desenvolve soluções para doenças infecciosas emergentes e negligenciadas, detalhou o surgimento da ciência no Brasil e no mundo, e o acelerado desenvolvimento das ciências da saúde a partir de 1822. Ela citou, por exemplo, o combate à gripe espanhola, febre amarela, peste bubônica e outras epidemias, as descobertas de Louis Pasteur e a influência pasteuriana na estruturação da medicina e da pesquisa em saúde no Brasil. “A ciência não tem pátria porque o saber é o patrimônio da humanidade e a flama que ilumina o mundo”, concluiu parafraseando Pasteur.
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Por Gabriel Martino | Acadêmica Agência de Comunicação