Desde 2011, o Instituto recolhe itens ligados a atividades ilegais e distribui o excedente para outras unidades. Repertório de captações vai desde objetos de combate à Covid-19 a cabeças humanas.
Desde 2011, o Instituto de Ciências Biomédicas (ICB-USP) coordena o recebimento das doações à USP de itens apreendidos pela Receita Federal e os distribui para os quatro cantos da Universidade. Assim, objetos ligados ao contrabando, pirataria, vinculados a atividades ilegais de modo geral, ou com tributos não pagos, tornam-se instrumentos para uso em atividades acadêmicas e administrativas.
A variedade de itens adquiridos é grande. A lista integra objetos de combate à Covid-19 (máscaras, álcool em gel, testes rápidos e termômetros), eletrônicos (tablets, celulares, computadores, impressoras 3D, câmeras de segurança, rádios, televisões e teclados), lentes oftalmológicas e até cabelos e cabeças humanas.
“Recebemos, por exemplo, em torno de quatro mil termômetros, 6.800 máscaras, 24 mil frascos de 60mL de álcool em gel, 15 mil testes de Covid, e distribuímos por todo campus”, destaca Andrea Queiroz, chefe da Seção de Patrimônio do ICB e responsável por gerenciar as doações.
Mas as doações não se limitam à USP. “Primeiro vemos se cabe ao ICB; depois, se interessa a outras unidades da Universidade. E como recebemos uma quantidade e variedade muito grande de materiais, que às vezes é superior à nossa demanda, ou podem ser melhor utilizados em outro local, muitas vezes procuramos parceiros”, complementa.
Por exemplo, já foram feitas doações de cabelo humano para o Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer (GRAACC). Os materiais de combate à Covid-19 foram repassados para unidades de saúde de cidades da Grande São Paulo.
Processo de captação – O processo para o recebimento dos itens doados pela Receita Federal não é simples. Andrea e sua equipe da seção de Patrimônio do ICB ficam encarregados de protocolar o pedido à Receita Federal e providenciar toda documentação, agendar visitas nos depósitos, providenciar o transporte, registrar como patrimônio e arrumar um local para armazenamento no almoxarifado para, enfim, encontrar interessados e distribuir os itens. Unidades da USP, instituições públicas ou ONGs também podem solicitar doações, entrando em contato com a Andrea por telefone (11) 3091-7443 ou e-mail andreaq@usp.br.
Boa parte dos itens apreendidos, principalmente quando têm valor material alto, é leiloada. Mesmo assim, o ICB já recebeu bens de valor considerável, como um iMac, computador de ponta avaliado em mais de dez mil reais, que foi integrado ao Centro de Facilidades de Apoio à Pesquisa (CEFAP), um setor multiusuário disponível para toda a comunidade do Instituto.
Assim como tomou posse de duas impressoras 3D. Uma delas foi integrada ao Museu de Anatomia Humana Alfonso Bovero e é utilizada na construção de novas peças. Já a outra foi alocada no Hospital Universitário (HU) e é utilizada por cirurgiões buco-maxilares para servir como modelo em procedimentos de reconstrução de face de pessoas acidentadas.
Impacto das Doações – O Departamento de Anatomia do ICB recebeu doações de dez cabeças humanas em 2019. Esses itens ficam congelados e são um diferencial no treinamento de docentes, técnicos, residentes médicos e em cursos especiais de capacitação. “Pessoas de outras unidades da USP vem até aqui para produzir suas teses e treinamentos. É algo único na Universidade porque é o mais próximo que conseguimos chegar de um exemplar da cabeça de pessoas vivas.”, afirma o Prof. Edson Liberti, do Laboratório de Anatomia Funcional Aplicada à Clínica e à Cirurgia.
O docente também destaca que parte da tecnologia do Museu de Anatomia Humana, provém das doações. “Na mesma época, recebemos diversos tablets. Todos foram levados para o Museu, e lá funcionam como um guia para os visitantes”.
Já a Escola Politécnica recebeu diversos itens de prevenção à Covid-19 no mês de setembro, momento oportuno por se tratar da retomada de várias atividades presenciais. De acordo com a assistente Técnica Administrativa, Kátia Feltrin, foram distribuídos 50 termômetros e 800 frascos de 60mL de álcool em gel. “Isso foi muito importante para nós. Conseguimos distribuir frascos para todos os funcionários. Antes, não tínhamos álcool de bolso, só aqueles grandes de limpeza. E isso faz toda diferença, porque a Escola é muito grande, são muitos prédios e laboratórios”. “Os termômetros também, porque nós não iríamos comprar pelo alto custo”.
No DAEE, as doações atenderam toda a demanda e vieram em um momento em que o órgão não conseguiria adquirir os itens. “Conseguimos distribuir máscaras para nossos técnicos de campo e também recebemos álcool em gel e termômetros em boa quantidade. Atendeu muito bem a necessidade de evitar a proliferação do vírus no início da pandemia, em um momento no qual não conseguíamos comprar material, porque muitos órgãos do Governo do Estado estavam parados”, destaca Samir Marques, que ocupa o cargo de Encarregado II no Departamento. “Também recebemos rádios para nossos técnicos, além de teclados, mouses e outros itens de informática”, complementa.
A Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) tem um longo histórico com as doações do ICB. Além de kits de máscaras, inclusive KN95, e frascos de álcool em gel, a instituição recebeu teclados, mouses, e diversos equipamentos que são utilizados em pesquisas. “Recebemos, por exemplo, óleos essenciais e cabelos humanos, utilizados na farmacologia em pesquisas com cosméticos; tablets, que usamos para fazermos anotações em pesquisas de campo; e os termômetros e medidores de pressão, utilizados na nossa campanha de prevenção da diabetes na Universidade”, afirma Michel Cruz, responsável pelo setor de Patrimônio da FCF.
A mobilização do ICB também inspirou Michel e equipe a fazerem o mesmo em sua unidade. Hoje, a FCF atua em conjunto com o ICB para captar os itens da Receita Federal, reforçando ainda mais o seu patrimônio. “Foi muito fácil adotar isso aqui porque o ICB já tinha desbravado tudo, estava desburocratizado. Acho que todas as unidades da USP deveriam incorporar esse procedimento porque é um custo-benefício enorme, que por ora, é incalculável, É uma economia muito grande em toda USP”.
Por Gabriel Martino | Agência Acadêmica de Comunicação