Parceria foi feita com Centro de Educação Física Almirante Adalberto Nunes, e busca estreitar a cooperação entre as entidades no campo da pesquisa e do ensino.
Diretora Patricia Gama se encontra com lideranças do CEFAN
O Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) firmou convênio com o Centro de Educação Física Almirante Adalberto Nunes (CEFAN), entidade da Marinha do Brasil destinada à capacitação física de tropas e de atletas militares olímpicos e paralímpicos, e ao desenvolvimento de pesquisas básica ou aplicada na área de educação física e fisioterapia. O acordo busca promover a cooperação entre as instituições por meio de projetos de pesquisa, eventos científicos e culturais, intercâmbio de informações e publicações acadêmicas, além de cursos e disciplinas.
A parceria foi formalizada no final de agosto, na sede do CEFAN, no Rio de Janeiro, pela diretora do ICB-USP, Patricia Gama, e pelo Contra-almirante Reinaldo de Reis Medeiros, comandante do CEFAN. O evento contou ainda com a presença do Vice- almirante Alfredo Martins Muradas, assessor-chefe da diretoria geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha.
“Estamos abrindo a porta para diversos pesquisadores do Instituto, ampliando a possibilidade para que possam desenvolver pesquisas em outros centros de excelência”, destaca Patrícia Gama, lembrando que a Marinha do Brasil ainda conta com 13 centros de pesquisa e tecnologia, responsáveis por produzir conhecimento em diversas áreas. “Microbiologia marinha, preservação dos mares e oceanos, desenvolvimento de fármacos e estratégias terapêuticas são alguns exemplos de temas que podem ser de interesse dos nossos pesquisadores em futuras parcerias”, complementa.
Vínculo na pesquisa – O acordo é fruto de uma parceria entre o ICB-USP e o CEFAN que teve início em 2018, com um trabalho do Laboratório de Glicoproteômica do Departamento de Parasitologia do ICB, coordenado pelo professor Giuseppe Palmisano e pela pesquisadora Andréia Carneiro da Silva, Capitão de Corveta da Marinha do Brasil e farmacêutica bioquímica. Juntos eles chegaram à descoberta inédita de biomarcadores para o diagnóstico precoce da rabdomiólise, doença que tem como principal causa a atividade física extenuante.
Trata-se de uma condição grave, caracterizada pela destruição dos tecidos musculares, que pode levar a óbito. Com a ruptura desses tecidos são liberadas diversas proteínas para a corrente sanguínea, que rapidamente se espalham por diversos órgãos e podem levar a lesão renal aguda, bem como complicações como arritmia cardíaca e síndrome compartimental (inflamação dos membros inferiores do corpo humano).
O primeiro objetivo da pesquisa já foi alcançado, com estudo publicado na revista Journal of Proteomics e patente nacional registrada junto ao Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI). “Descobrimos que, ao contrário do que se imaginava anteriormente, somente a cor da urina, geralmente cor de ‘coca-cola’, não é suficiente para dar o diagnóstico e que as complicações da doença podem acontecer também em urinas de cores claras. Portanto, é preciso avaliar os níveis de proteínas específicas da rabdomiólise. Proteínas essas que nós identificamos no laboratório por meio da espectrometria de massas com amostras coletadas antes e após o exercício durante três anos”, explica Palmisano.
Com base nessa descoberta, o projeto foi aprovado pelo Conselho de Ciência e Tecnologia da Marinha (CONCITEM) e na 20ª Reunião de Projetos de Interesse para a Defesa Nacional (20ª REPID), tornando-se assim estratégico no âmbito do Ministério da Defesa. “Queremos oferecer para a saúde pública e para os laboratórios um teste de diagnóstico que seja capaz de salvar essas vidas. Isso nos colocará na vanguarda internacional”, afirma Palmisano.
Em um estudo de caso ainda não publicado de um militar que evoluiu para lesão renal aguda após um episódio de rabdomiólise, encontrou-se as mesmas proteínas identificadas pelo grupo. E o militar, ao iniciar o tratamento de forma precoce, recuperou-se da doença.
Os pesquisadores também buscam avaliar se as proteínas identificadas podem ser eficazes para diagnosticar outras formas de rabdomiólise. “Vivemos um surto de rabdomiólise por intoxicação na região norte. É recorrente vermos casos levando à lesão renal aguda devido ao consumo de peixes amazônicos. Veremos se nosso conhecimento é aplicável nesses casos”, explica Carneiro da Silva.
Importância do diagnóstico precoce – Comum entre militares, estivadores e canavieiros, devido também às altas temperaturas em que ocorrem suas atividades, a rabdomiólise é de difícil diagnóstico, o que gera uma subnotificação. Além disso, os sintomas clínicos aparecem, muitas vezes, depois que as complicações já se instauraram.
“Em geral quando o militar chega no hospital já é tarde. Isso ocorre porque geralmente ele só apresenta o sintoma clínico no dia seguinte à atividade física, o que não é suficiente para evitar o agravamento da doença. Além disso, muitos dos treinamentos acontecem em locais de difícil acesso a atendimentos de saúde, como na floresta amazônica”, detalha a farmacêutica. “Caso houvesse uma forma de identificação precoce, seria preciso apenas uma hidratação intravenosa no indivíduo, em campo, para sanar o problema”, acrescenta.
Estudos também apontam casos da doença entre praticantes de crossfit, modalidade de exercícios físicos de alta intensidade que tem se popularizado nas academias.
Por Gabriel Martino | Acadêmica Agência de Comunicação