O projeto reúne pesquisadores do mundo inteiro para estudar os mecanismos das células individualmente e propor métodos melhores de diagnóstico e tratamento de doenças.
11/09/2019
Analisar a eficácia de medicamentos, compreender os mecanismos de resistência das células, que levam às falhas de tratamentos, e desenvolver melhores métodos diagnósticos e terapêuticos são algumas das contribuições que o projeto global Human Cell Atlas (HCA) pode trazer à ciência e à sociedade. Com membros em 66 países, o HCA foi apresentado no workshop “Mapping the Human Body: Introducing the Human Cell Atlas to the Brazilian Scientific Community”, realizado ontem (10/9) no Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP).
“Trata-se de uma iniciativa de importância mundial que abrirá novos horizontes para a ciência, e nós garantimos a participação da USP nesse projeto”, afirmou o professor Sylvio Canuto, pró-reitor de Pesquisa da USP, durante a abertura do evento. O workshop reuniu pesquisadores estrangeiros, membros do Human Cell Atlas, pesquisadores de diferentes unidades da USP e do A.C.Camargo Cancer Center.
A proposta do HCA é mapear individualmente todas as células dos diferentes tecidos e sistemas do corpo humano. Segundo Alex Shalek, pesquisador do MIT e integrante do projeto, a partir de técnicas de isolamento de células e sequenciamento de RNA de células únicas, é possível verificar a variabilidade de expressão dos genes de cada célula. “Até células aparentemente idênticas podem variar muito as suas respostas”, explica.
Essas técnicas já são conhecidas e aplicadas pela comunidade científica, mas o projeto visa criar uma rede global de pesquisadores engajados em unir os diferentes métodos e criar um banco de dados aberto, um atlas das células humanas. A intenção é classificar as células de acordo com os genes que elas expressam, características fisiológicas, funções e localização. De acordo com Lucio Freitas-Junior, pesquisador do ICB-USP e integrante do Comitê de Equidade do HCA, o caráter global do projeto é importante para cobrir toda a diversidade genética.
Na prática – Atualmente, um dos grandes desafios para a ciência é entender como algumas células desenvolvem resistência a tratamentos e os mecanismos envolvidos nesse processo. Por que alguns pacientes respondem bem a um determinado tratamento e outros não? Perguntas como essa são frequentes e podem estar mais próximas de uma resposta. “O HCA pode nos ajudar a entender esses mecanismos e desenvolver tratamentos personalizados para cada paciente”, destaca Lucio Freitas-Junior.
No cenário brasileiro, as doenças tropicais também têm sido alvo de dúvidas. Em uma das palestras do workshop, o pesquisador Helder Nakaya, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, falou sobre a necessidade de identificar novos marcadores para compreender doenças como Febre Amarela, Zika e Chikungunya. Segundo ele, o conhecimento individual das células pode ser importante para predizer, por exemplo, quais indivíduos correm risco de desenvolver problemas neurológicos após serem infectados pelo vírus da Chikungunya e para tentar prevenir essa consequência.
Aline Tavares | Acadêmica Agência de Comunicação