Testes em ratos apontaram diversos benefícios dos exercícios aeróbicos no controle da pressão arterial.
Exercícios físicos podem ajudar no controle da pressão arterial, contribuindo para o tratamento de hipertensão e melhorando a saúde cognitiva, mesmo em indivíduos de idade avançada. É o que aponta um estudo de pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) publicado no Journal Applied Physiology. Em modelos animais de idade avançada, os pesquisadores observaram melhora nos reflexos cardiovasculares responsáveis pelo controle da pressão sanguínea, reforçando a importância dos exercícios físicos aeróbicos na prevenção e tratamento da hipertensão.
“Além dos benefícios cardiovasculares, têm se demonstrado que o exercício físico também é um aliado poderoso na preservação da função cerebral durante o envelhecimento”, explica o Prof. Vagner Antunes, docente do Departamento de Fisiologia e Biofísica do ICB e coordenador da pesquisa. O pesquisador cita a neuroplasticidade — capacidade do cérebro de se adaptar e reorganizar — e como ela é influenciada positivamente pela prática regular de exercício. “Demonstramos que o exercício físico influencia positivamente a neuroplasticidade em núcleos do sistema nervoso central que são responsáveis pelo controle neural da circulação, e acreditamos que isso contribua diretamente para os benefícios cardiovasculares em animais com idade avançada”.
Os núcleos observados fazem parte de uma circuitaria que compõe o sistema nervoso autônomo (SNA), que é
dividido entre simpático e vagal: o primeiro associado a momentos de alerta e gasto energético, e o segundo a momentos de relaxamento. O estudo utilizou como modelo experimental ratos albinos espontaneamente hipertensos — ou seja, que desenvolveram a hipertensão naturalmente — e na idade de 2 anos, o que equivale a aproximadamente 70 anos para humanos. Além da hipertensão, os animais apresentavam uma disfunção do SNA, caracterizada por uma atuação mais intensa do sistema simpático e menos do componente vagal para o sistema cardiovascular, em relação ao que se é esperado em indivíduos saudáveis.
Os animais praticaram exercício físico aeróbico regularmente, de maneira moderada, durante oito semanas. Após esse período, os pesquisadores observaram, além de uma redução nos níveis de pressão arterial, uma melhora da sensibilidade do barorreflexo. Trata-se de um reflexo cardiovascular de grande relevância no controle da pressão e do fluxo sanguíneo em curto prazo, pois, por meio do funcionamento equilibrado do sistema nervoso autônomo, aciona mecanismos primordiais para ajustar a frequência e força das contrações cardíacas e o grau de dilatação dos vasos sanguíneos. O desequilíbrio no SNA, característico da hipertensão e agravado pelo envelhecimento, também apresentou significativa melhora após o treinamento físico, consequentemente promovendo benefícios cardiovasculares.
“Além disso, observamos que o exercício foi capaz de influenciar a neuroplasticidade em núcleos envolvidos no controle cardiovascular em duas regiões do sistema nervoso central, o hipotálamo e o tronco cerebral”, acrescenta a Dra. Paula Magalhães Gomes, pós-doutoranda e uma das pesquisadoras por trás do estudo. Foi evidenciado ainda que a atividade física alterou a expressão de neuromediadores — substâncias que modulam a ação dos neurônios que influenciam diretamente na atividade simpática e vagal para coração e vasos e, por extensão, no controle da pressão arterial. Os pesquisadores identificaram no hipotálamo dos animais treinados, por exemplo, uma maior marcação da ocitocina, neurotransmissor relacionado com a modulação da atividade neural e controle cardiovascular.
Envelhecimento saudável e ativo — O estudo corrobora com outros trabalhos que já indicavam que a prática de atividade física estimula o crescimento de novas conexões neurais e promove a liberação de substâncias químicas benéficas ao cérebro, reduzindo o declínio cognitivo associado ao envelhecimento. Segundo o Dr. Antunes, os benefícios conhecidos incluem melhoria da capacidade cardiorrespiratória, fortalecimento do sistema circulatório e redução do risco de doenças cardiovasculares.
De acordo com o pesquisador, “o papel do exercício físico é crucial em todas as fases da vida, mas torna-se ainda mais relevante à medida que envelhecemos. Por isso, a prática de atividades, como caminhada, corrida, natação e outros exercícios aeróbicos é essencial, sempre com acompanhamento profissional para maior segurança e aproveitamento”.
Por Felipe Parlato | Editado por Nucom-ICB