Entre em Contato
Evento do ICB-USP e Scientific American Brasil aborda resistência antimicrobiana e outros desafios da ciência atual

O seminário “Humanos, vírus e bactérias: o futuro das doenças contagiosas” ocorreu no dia 23 de abril no Teatro Unibes Cultural


29/04/2019

 

Na última terça-feira (23/04), foi realizado pela revista Scientific American Brasil o seminário “Humanos, vírus e bactérias: o futuro das doenças contagiosas”, em parceria com o Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP). O evento contou com a participação do diretor Luís Carlos Ferreira e dos pesquisadores Gabriel Padilla, Nilton Lincopan, Luiz Gustavo Almeida, Margareth Capurro e Luciana Biagini Lopes, além de especialistas de outras instituições, como Eurofarma, Hospital Israelita Albert Einstein e Instituto Butantan. Os convidados discutiram os desafios relacionados às bactérias multiresistentes, métodos preventivos e a importância de educar a população em relação ao uso de antibióticos e vacinação.

 

O professor Gabriel Padilla, participante da primeira mesa, abriu o evento com uma breve contextualização sobre a descoberta dos antibióticos, que ocorreu entre as décadas de 40 e 70 – a chamada “era dos antibióticos”. “No século XXI, surge uma explosão mundial de resistência antimicrobiana. Os microrganismos têm uma grande capacidade de adaptação e, com o tempo, podem desenvolver mecanismos de resistência a substâncias tóxicas”, explica.

 

Em 2017, segundo o docente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu um chamado mundial pela busca de novas moléculas antibióticas. A visão de Padilla, nesse sentido, é otimista. “Até o final do século XX, acreditava-se que as bactérias produziam uma molécula por cepa [linhagem]. Hoje, com os conhecimentos da genômica, sabemos que esse número é multiplicado por 20, 30. A potencialidade de ter novas moléculas com novas atividades é extraordinária”.

 

Sobre a resistência antimicrobiana, o pesquisador Nilton Lincopan explica que o uso de antibióticos na medicina não deve ser a única preocupação. “No caso do agronegócio, por exemplo, estão começando a evitar o uso de compostos antimicrobianos na produção de animais por exigência dos próprios consumidores. Temos que contemplar o problema da resistência como uma questão que atinge seres humanos, animais e o meio ambiente – conceito que chamamos de saúde única”.

 

Posteriormente, também entraram em pauta as epidemias da história, como a cólera, a varíola e a gripe espanhola. O diretor do ICB-USP, Luís Carlos Ferreira, afirma que as vacinas foram uma intervenção de saúde pública essencial para parar essas e outras doenças infecciosas. No entanto, uma série de movimentos antivacina dificultam a imunização.

 

“Muitos laboratórios têm buscado uma 4ª geração de vacinas, com componentes que irão reprogramar o nosso sistema imunológico e poderão conferir proteção não apenas contra um patógeno, mas vários. Só existe um caminho para alcançarmos esse objetivo: usar, respeitar e apoiar a ciência”, afirma o diretor.

 

Novas estratégias contra infecções – O pesquisador Luiz Gustavo Almeida e as professoras Margareth Capurro e Luciana Biagini Lopes integraram a quarta e última mesa do evento, para falar sobre como as estratégias estudadas em seus laboratórios podem ser utilizadas para combater doenças infecciosas.

 

Luiz Gustavo Almeida, por exemplo, trabalha com bactérias do tipo Pseudomonas aeruginosa, que tem a característica da super resistência. Seu estudo envolve o uso de fagos (vírus que infectam bactérias). “O antibiótico mata todas as bactérias, sejam elas ‘boas’ ou ‘ruins’. Já o fago tem uma característica muito mais específica: ele reconhece o alvo. Isso o torna muito importante para o desenvolvimento de novas estratégias contra superbactérias”.

 

Já a linha de pesquisa de Margareth Capurro está relacionada às doenças transmitidas por mosquitos, como dengue e chikungunya, e consiste na produção de mosquitos transgênicos. São mosquitos geneticamente modificados para serem estéreis, o que significa uma forma de bloquear a transmissão dos vírus.

 

A professora Luciana Biagini Lopes encerrou as discussões do evento abordando a nanotecnologia como estratégia para combater essas doenças. “Existem vários tipos de nanocarreadores e eles têm características fundamentalmente distintas, podendo atuar por meio de diversos mecanismos para melhorar a terapia de doenças infecciosas”.

 

Aline Tavares | Acadêmica Agência de Comunicação