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Estudo sugere que hipertensão pode prejudicar a saúde reprodutiva em homens

Pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da USP descobriram que a doença compromete a microcirculação do testículo e a qualidade dos espermatozoides. Resultados foram obtidos de testes em animais.


26/04/2020

 

Um estudo conduzido pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) em parceria com o Centro de Pesquisa em Urologia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) mostrou que a hipertensão, já conhecida por afetar órgãos como cérebro, coração, rins e olhos, também pode prejudicar o funcionamento dos testículos. Testes em modelo animal hipertenso mostraram mudanças morfológicas em arteríolas e túbulos seminíferos (onde os espermatozoides são produzidos), além de uma qualidade inferior dos espermatozoides, em comparação ao modelo normotenso. Publicada na revista Scientific Reports, a pesquisa foi a tese de doutorado de Lucas Giglio Colli, orientado pela professora Maria Helena Carvalho, do Departamento de Farmacologia.

 

Segundo Colli, a principal justificativa do tema da pesquisa foi uma revisão sistemática e metanálise realizada em 2017 por pesquisadores da Hebrew University-Hadassah, de Israel, que concluiu que a concentração de espermatozoides em homens ocidentais diminuiu 52,4% em 50 anos. “Cerca de 750 milhões de homens em idade reprodutiva são hipertensos e já sabemos que a condição danifica órgãos vitais, mas pouco se sabia sobre os riscos ao sistema reprodutor masculino”, explica.

 

Os cientistas analisaram a microcirculação do testículo in vivo em um procedimento inédito. Foi administrada uma dose de noradrenalina, hormônio relacionado ao estresse, durante uma cirurgia que expunha a circulação sanguínea da região. Os ratos hipertensos apresentaram alterações no ritmo da vasomotricidade testicular – movimentos de contração e relaxamento espontâneos dos vasos sanguíneos.

 

“Os animais hipertensos tinham paradas de fluxo em maior número do que os normotensos, o que poderia influenciar a distribuição de oxigênio do sistema. Tudo indicava que uma alteração nesse fenômeno poderia estar agravando a hipóxia [insuficiência de oxigênio] já pré-existente no tecido”, diz Colli. A hipótese foi confirmada quando o grupo encontrou dois marcadores do processo de hipóxia em maior quantidade nos testículos dos ratos hipertensos: as proteínas HIF-1alfa e VEGF.

 

A pesquisa apontou que a hipertensão não só compromete as estruturas dos testículos como também a condição dos espermatozoides. A pressão arterial elevada resultou em um maior número de espermatozoides com o DNA fragmentado, algo que pode impossibilitar a geração de um embrião.

 

Além disso, os espermatozoides do modelo hipertenso apresentaram uma atividade mitocondrial significantemente inferior ao modelo normotenso. A mitocôndria é uma organela presente em todas as células do corpo humano e sua atividade é um importante marcador da saúde do espermatozoide. “A atividade alterada da mitocôndria pode gerar uma série de efeitos danosos. Entre eles, a produção exacerbada de espécies reativas de oxigênio e apoptose [morte] celular. Há uma relação direta entre esses efeitos”, esclarece o professor Stephen Rodrigues, do ICB-USP, coautor da pesquisa.

 

O pesquisador Lucas Giglio Colli enfatiza que o estudo é importante não apenas em termos de saúde reprodutiva, como também para a saúde masculina em si. “O sêmen é um espelho da saúde do homem. Nós não podemos apontar com certeza que um homem que apresente mais anormalidades no sêmen seja hipertenso, mas provavelmente é alguém com a saúde comprometida em algum aspecto”.

 

Os modelos animais do estudo tinham entre 20 e 24 semanas de vida, o que os tornava equivalentes a jovens adultos. Segundo o professor Stephen Rodrigues, encarregado de dar continuidade à pesquisa, o próximo passo é fazer testes em ratos com idades entre um ano e um ano e dois meses – o que corresponde a entre 40 e 50 anos em humanos – para verificar se a idade pode agravar a condição. O grupo também pretende avaliar a saúde de espermatozoides de pessoas hipertensas, mas ainda não há previsão para testes clínicos.

 

O artigo “Systemic arterial hypertension leads to decreased semen quality and alterations in the testicular microcirculation in rats” está disponível neste site.

 

Por: Bruna Anielle | ICB-USP