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Estudo revela diferenças entre os sexos nos efeitos da hipofunção da proteína Klotho

Essa diferença entre machos e fêmeas realça a importância de considerar o sexo nas pesquisas biomédicas, especialmente em estudos sobre o envelhecimento.


Uma pesquisa do Departamento de Farmacologia do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) revelou novas informações sobre como a hipofunção da proteína Klotho, associada ao envelhecimento, afeta camundongos machos e fêmeas de maneira diferente. Os estudos foram realizados pela pesquisadora Geovana Rosa Oliveira dos Santos, sob orientação da professora Elisa Mitiko Kawamoto. O professor Cristoforo Scavone colaborou na pesquisa.

 

A Klotho é conhecida por sua atuação no controle do envelhecimento celular e da neuroproteção, e a deficiência dessa proteína, como mostram estudos prévios, impacta sistemas fundamentais no organismo. Kawamoto e sua equipe, atentos às particularidades entre os sexos, estudaram a hipofunção de Klotho em um grupo de 28 camundongos, com enfoque no impacto sobre o sistema nervoso.

 

Para a pesquisa, a equipe utilizou um modelo de camundongos geneticamente modificados para reduzir a função da Klotho, o que induz envelhecimento acelerado. Kawamoto explica que esses animais, que possuem uma “hipofunção” de Klotho, exibem declínios funcionais típicos do envelhecimento. “Estes camundongos possuem mutações que resultam em menor atividade da proteína, e nossa análise se concentrou em entender como essas mutações afetam o sistema nervoso em ambos os sexos”, afirmou a professora.

 

Uma parte importante do estudo foi a avaliação dos receptores sinápticos, que são essenciais para a plasticidade e atividade neuronal. A equipe observou uma diferença significativa na expressão desses receptores entre os machos e as fêmeas: “Em nossos resultados, os camundongos machos com deficiência de Klotho apresentaram uma redução notável em um dos receptores principais no cerebelo, enquanto nas fêmeas essa diferença não foi observada”, conta a pesquisadora Geovana. Esse dado sugere que as fêmeas podem ter uma forma de proteção contra a perda de função da Klotho, ao menos no que diz respeito a essa região específica do cérebro.

 

Além dos receptores sinápticos, a pesquisa explorou a atividade da enzima sódio-potássio ATPase, conhecida por seu papel na sinalização neuronal e na homeostase celular. “Notamos que a atividade enzimática era significativamente maior nas fêmeas do que nos machos, o que pode ser um indicativo de que há variabilidade metabólica cerebral entre os sexos”, observou a professora. Este aspecto da pesquisa foi fundamental para mostrar a importância de considerar a variável sexo em estudos biomédicos.

 

A professora Kawamoto ressaltou a relevância dessa abordagem: “Infelizmente, existe uma cultura consolidada de conduzir estudos principalmente com machos, e muitas vezes se assume que os resultados serão semelhantes para ambos os sexos. Nossa pesquisa mostra que isso nem sempre é verdadeiro e reforça a necessidade de considerar machos e fêmeas em estudos biomédicos, especialmente em áreas como neurociência”.

 

Ela destacou ainda que as diferenças hormonais e biológicas entre os sexos podem impactar diretamente os resultados e interpretações dos estudos, tornando-se essenciais em pesquisas voltadas para tratamentos mais precisos. A professora colocou em relevo o fato de o periódico científico British Journal ter passado a aceitar somente artigos que incluam fêmeas no grupo de estudo.

 

Com os resultados obtidos, o estudo abre novas perspectivas para a compreensão das diferenças biológicas entre machos e fêmeas no envelhecimento e sugere que os hormônios sexuais possam desempenhar um papel importante. “Nosso próximo passo é investigar se essas diferenças são independentes dos hormônios sexuais ou se, ao contrário, estão diretamente ligadas a eles. Acreditamos que entender essas relações pode trazer avanços importantes para tratamentos mais personalizados no futuro”, concluiu Kawamoto.

 

Ana Carolina Guerra | Acadêmica Agência de Comunicação e NUCOM-ICB