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Doutora em Imunologia pelo ICB vence Prêmio Tese Destaque USP

Estudo focou no desenvolvimento de uma vacina de DNA contra o vírus zika, testada em camundongos.


Teixeira durante a premiação.

Teixeira durante a premiação.

Franciane Mouradian Emidio Teixeira, doutora em imunologia pelo Programa de Pós-Graduação em Imunologia do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB-USP), conquistou o “Prêmio Tese Destaque USP”, edição de 2024, na área de ciências biológicas. Sua tese, orientada pela professora Dra. Maria Notomi Sato, focou no desenvolvimento de uma vacina de DNA contra o vírus zika, testada em camundongos. O trabalho contou com coorientação da professora Dra. Isabelle Freire Tabosa Viana, da Fiocruz Pernambuco e, durante um estágio no exterior, a aluna foi supervisionada pelo professor Dr. Julien Gautrot, da Queen Mary University of London. A premiação foi anunciada no final de outubro e a solenidade para entrega dos prêmios ocorreu em 26 de novembro de 2024 no prédio da Reitoria da USP.

 

A ideia da tese de Teixeira surgiu em meados de 2017, durante seu mestrado, em resposta à epidemia de zika e aos casos de microcefalia associados. A parceria entre o laboratório da professora Sato, o ICB-USP e a Fiocruz Pernambuco permitiu a realização de testes que levaram ao desenvolvimento de cinco protótipos de vacina, dos quais um apresentou os melhores resultados e se tornou a vacina candidata para continuidade do estudo e dos testes de eficácia em camundongos.

 

“Eu sabia da qualidade dos trabalhos no ICB e da forte concorrência, mas resolvi inscrever minha tese para representar o Departamento de Imunologia. Quando fui selecionada, já fiquei muito feliz, mas não esperava o prêmio final”, relatou Teixeira. A premiação veio após avaliação da tese, documentação e um vídeo explicando o impacto social do estudo.

 

Pesquisa e Inovação – A vacina de DNA desenvolvida durante a tese utiliza sequências genéticas que instruem as células do organismo a produzir proteínas virais, ativando o sistema imunológico. Apesar dos avanços iniciais, os primeiros protótipos não apresentaram eficácia ideal. Para resolver isso, foram realizados ajustes no desenho da vacina, removendo e reposicionando partes do código genético da proteína que recobre o vírus e adicionando o adjuvante molecular tPA (ativador do plasminogênio tecidual), que orienta a célula a produzir e secretar a proteína-alvo, melhorando sua disponibilidade para o sistema imunológico. No decorrer da pesquisa, os autores também associaram à vacina a formulação adjuvante Alum (hidróxido de alumínio), o que impulsionou a produção de anticorpos e garantiu a proteção contra o vírus.

 

Os testes em camundongos adultos demonstraram eficácia protetora com ausência do vírus no sangue e no tecido cerebral. Parte dos resultados foi publicada no início deste ano na revista científica Frontiers in Immunology.

 

Os esforços de Teixeira também incluíram um estágio de um ano na Queen Mary University of London, onde desenvolveu nanopartículas baseadas em escovas de polímeros catiônicos para encapsular o DNA. Essa técnica, similar às nanopartículas lipídicas usada em vacinas de RNA mensageiro, tem por objetivo proteger o material genético contra degradação e melhorar sua biodisponibilidade no organismo, a fim de aumentar a eficácia da imunização. “Esse processo com DNA vacinal e escovas de polímeros ainda não está descrito na literatura, é algo inovador que pode impulsionar novas abordagens vacinais”, destacou a pesquisadora.

 

Proteção durante a gestação – Atualmente, no pós-doutorado, Teixeira avalia a eficácia das vacinas desenvolvidas em proteger fetos durante a gestação. A pesquisa busca combater os graves impactos do zika em mulheres grávidas, especialmente no primeiro trimestre da gestação, período em que a infecção pode causar microcefalia e outros comprometimentos neurológicos.

 

Os testes envolvem camundongos fêmeas grávidas, analisando se a imunização protege os filhotes de anomalias neurológicas ou aborto espontâneo. “Nosso objetivo é garantir proteção durante a gestação e nos primeiros dias de vida, que são as fases mais vulneráveis à doença”, explicou.

 

Se eficaz, a vacina poderá ser recomendada tanto para mulheres quanto para homens em idade fértil, devido à possibilidade de transmissão sexual do vírus. “É essencial vacinar também os parceiros para evitar que sejam um risco para mulheres que planejam engravidar”, pontuou Teixeira.

 

Embora os resultados iniciais sejam promissores, a equipe ainda precisa de mais amostras para realizar análises estatísticas e avançar para os testes clínicos. O estudo, que alia inovação e colaboração internacional, pode representar um avanço significativo no combate ao zika vírus e na proteção de populações vulneráveis, além de oferecer subsídios para o desenvolvimento de novas abordagens vacinais para outras doenças emergentes.

 

Ana Carolina Guerra | Acadêmica Agência de Comunicação e NUCOM-ICB


Confira abaixo a galeria de fotos (créditos: arquivo pessoal):