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Diagnóstico rápido deve ser o alvo do combate ao coronavírus

Virologistas do ICB-USP explicam que o desenvolvimento de uma vacina eficaz e segura pode demorar de um a dois anos, mas o esforço de um diagnóstico rápido facilita a contenção. A equipe é especialista em diagnóstico de coronavírus e outros vírus respiratórios.


13/02/2020

 

O novo coronavírus, recentemente nomeado de SARS-CoV-2 (Coronavírus da Síndrome Respiratória Aguda Grave – 2), já infectou cerca de 60 mil pessoas na China e provocou mais de mil e trezentas mortes. Sua contenção é um desafio – o vírus é transmitido facilmente por vias aéreas, através do contato direto ou indireto com secreções respiratórias de pessoas infectadas ou com pequenas gotículas que podem ser espalhadas pelo ar. Em meio a busca por uma vacina, virologistas do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) esclarecem que essa não é uma realidade próxima e que, no Brasil e outros países ainda não atingidos ou com poucos casos, o foco deve ser a realização do diagnóstico rápido para isolar os indivíduos infectados e conter a transmissão do patógeno.

De acordo com o pesquisador Edison Luiz Durigon, do Laboratório de Virologia Clínica e Molecular do ICB-USP, a transmissão do vírus é muito mais eficaz no inverno, pois ele não sobrevive a altas temperaturas e os raios ultravioleta o destroem facilmente. Por esse motivo, Durigon explica que a chance de termos um surto do novo coronavírus no Brasil é muito pequena. “No caso da epidemia de SARS (Síndrome Respiratória Aguda Severa) em 2003, que provocava uma pneumonia muito severa e com alta mortalidade, países que estavam no verão também não sofreram surtos”.

Hoje, no Brasil, o Ministério da Saúde investiga 11 indivíduos com suspeita da doença, que estão em isolamento realizando testes de diagnóstico. Outros 33 casos já foram descartados. O diagnóstico é feito com a técnica Real Time PCR (Reação em Cadeia da Polimerase em tempo real), um método rápido de diagnóstico molecular feito através da análise de diferentes amostras do trato respiratório, como secreções orais ou nasais dos pacientes. Todas as amostras são encaminhadas para o Instituto Adolfo Lutz.

Durigon e sua equipe também são especialistas em diagnósticos de vírus respiratórios – o laboratório tem parcerias com o Hospital das Clínicas, Hospital Universitário da USP, ITACI (Instituto de Tratamento do Câncer Infantil), Hospital Municipal Infantil Menino Jesus, entre outros. O grupo realiza testes de diagnóstico de mais de 16 vírus respiratórios, como influenza A e B, metapneumovírus, adenovírus e os outros quatro coronavírus humanos endêmicos já conhecidos.

Quanto ao diagnóstico do novo coronavírus emergente, os pesquisadores utilizam diferentes protocolos sugeridos pela Organização Mundial da Saúde. “Nós adquirimos o kit diagnóstico desenvolvido no Instituto de Virologia da Universidade de Medicina Charité, da Alemanha, e estamos importando de lá um controle sintético – uma versão sintética do vírus – para auxiliar na confirmação dos testes”, diz Durigon.

Segundo o virologista, apesar de instituições de diferentes países já terem sequenciado o genoma do vírus, como a Universidade Charité e o Instituto Pasteur da França, o processo de fabricação de uma vacina, incluindo testes para verificar a sua segurança, pode demorar de um a dois anos. “Não podemos contar com a vacina agora. Nosso foco deve ser a prevenção e o diagnóstico rápido, para evitar que o vírus se espalhe”, destaca.

 

Barreiras para o diagnóstico – De acordo com o pós-doutor Luiz Gustavo Bentim Góes, que atua no Laboratório de Virologia Clínica e Molecular e estuda a epidemiologia de coronavírus humanos e a diversidade de coronavírus em morcegos no Brasil, alguns estudos indicam o período de incubação do Covid-19 varia entre 3 e 14 dias, com pico no 6º dia. O problema é que, geralmente, o paciente vai ao hospital apenas no 9º dia – nesse meio tempo, ele pode acabar contaminando outras pessoas.

Outro obstáculo é que, em comparação com os coronavírus causadores da SARS e da MERS (Síndrome Respiratória do Oriente Médio), o vírus atual se espalha mais rápido. “Em menos de um mês da descoberta da circulação do novo vírus, o número de infectados já tinha passado o que o Coronavírus da SARS levou seis meses para atingir, ou seja, o período total da epidemia”, destaca Góes.

Segundo o pesquisador, muitas dúvidas ainda cercam o novo coronavírus, como qual é a capacidade de transmissão, a porcentagem dos casos que avançam para sintomas severos ou morte, a porcentagem de indivíduos assintomáticos ou com infecções brandas, a capacidade destes em transmitir a doença e se novas drogas serão eficazes no controle das infecções. Por enquanto, a doença tem tido maior prevalência em idosos e homens.

Os agentes patogênicos emergentes representam 13% dos patógenos humanos, e 70% são transmitidos por animais silvestres. “O surgimento de vírus emergentes é uma consequência da relação entre fatores evolutivos virais, aumento do contato direto ou indireto com animais silvestres, alta diversidade de mamíferos, perda de biodiversidade e alta densidade de população próxima a áreas florestais”.

 

Proteção contra o novo coronavírus – O pesquisador Luiz Gustavo Bentim Góes também chama a atenção para uma série de mitos que tem surgido nas redes sociais, como falsos tratamentos e métodos preventivos, e destaca quais são as reais medidas de proteção que podem evitar a contaminação ou a transmissão de qualquer doença respiratória:

  • Lavar as mãos frequentemente;
  • Evitar tocar no rosto (olhos, boca e nariz);
  • Manter uma distância social de pessoas com sintomas de doenças respiratórias (no mínimo 1 metro);
  • Procurar um médico em caso de febre, tosse e dificuldade de respirar;
  • Não ir ao trabalho ou ambientes populosos caso esteja doente;
  • Cobrir a boca/nariz com tecido ao tossir ou espirrar e descartar o tecido, lavando as mãos em seguida.

 

Por: Aline Tavares
Acadêmica Agência de Comunicação