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Conheça o livro brasileiro que é referência mundial no ensino de Histologia

Histologia Básica, escrito por dois professores da USP, completa 51 anos e continua sendo um dos livros mais utilizados no estudo da disciplina.


04/12/2020

 

Em 1969, dois professores da Universidade de São Paulo (USP) publicaram um livro para o ensino de Histologia (estudo dos tecidos biológicos) em cursos de graduação na área da saúde. Intitulado Histologia Básica, o livro se tornou pioneiro no ensino da disciplina e referência no mundo todo, sendo considerado um dos 15 melhores livros da área pelo portal americano Book Authority. A obra foi escrita pelos professores Luiz Carlos Uchôa Junqueira e José Carneiro da Silva Filho, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB-USP).

 

A intenção dos autores foi escrever um livro conciso e didático, apenas com as informações mais relevantes sobre histologia. “Os livros da área costumavam ser muito extensos. Não havia muita preocupação com didática, apesar de serem voltados para a graduação”, afirma o professor Paulo Abrahamsohn, também do ICB-USP e editor da última edição, a 13ª. O livro foi traduzido para mais de 16 idiomas, incluindo japonês, coreano, servo-croata, alemão, inglês, francês e espanhol, e é adotado em muitas universidades do exterior, como Harvard e Stanford (EUA).

 

De acordo com Abrahamsohn, o Histologia Básica influenciou a maneira de escrever livros didáticos de Histologia para a graduação e teve um grande impacto no ensino da disciplina. “A obra aumentou o acesso à informação por parte dos estudantes, pela maneira como apresentou o conteúdo. Também influenciou outros autores a fazer o mesmo em outras áreas. Os livros de hoje são muito mais objetivos e dirigidos aos interesses do aluno”.

 

Além de uma rigorosa curadoria, o livro também leva fama por sua linguagem acessível e de fácil compreensão. Afinal, a disciplina é ensinada nos primeiros anos dos cursos de graduação da área da saúde, como medicina, odontologia, enfermagem, ciências biomédicas e veterinária. Os autores, em especial José Carneiro por ser fotógrafo amador, também tiveram um cuidado especial com as fotos e as ilustrações, instrumentos essenciais para o estudo da histologia. “Antigamente, era bem mais difícil publicar fotografias de ótima qualidade, por que isso tornava a obra muito cara. Logo, as ilustrações eram a melhor alternativa”, lembra Abrahamsohn, que era colega dos autores e acompanhou a trajetória da obra. “Eram desenhos muito bem feitos. Eles apresentavam não só a estrutura como era vista no microscópio, mas o funcionamento dos tecidos, das células e dos sistemas. ”

 

Com o passar do tempo e o barateamento de técnicas de impressão, fotos de preparados histológicos de ótima qualidade passaram a ser incluídas cada vez mais nas várias edições do livro. Segundo o professor, o próprio Carneiro era responsável não só pelas fotografias como pela revelação e ampliação delas. “Apesar de ser amador, ele entendia muito sobre o assunto”, conta. As ilustrações também evoluíram ao longo das edições, ganhando mais cores e mais precisão.

 

Outro aspecto importante durante as atualizações da obra é a verificação rigorosa de descobertas científicas. Abrahamsohn explica: “Todo dia aparecem novas publicações na literatura médica e biológica. Carneiro era uma pessoa muito cuidadosa e sensata, sempre falava o seguinte ‘as novidades só vão para o livro se realmente forem comprovadas’”.

 

Após o falecimento do professor Junqueira em 2006, as edições foram coordenadas e redigidas pelo professor Carneiro, juntamente com os docentes do ICB-USP Marinilce Santos, Patrícia Gama, Telma Zorn e Paulo Abrahamsohn, que coordenou a publicação da 13ª edição, a mais recente, lançada em 2017.

 

Sobre os autores

 

José Carneiro da Silva Filho

Graduou-se na Faculdade de Medicina de Recife em 1954, atual Universidade Federal de Pernambuco, com o propósito de cuidar de doentes, mas logo descobriu o gosto pela docência. Convidado pelo professor Luiz Carlos Junqueira, então catedrático de Histologia na USP, transferiu-se para São Paulo.

Estagiou com o professor Charles Phillipe Leblond, na McGill University, em Montreal, no Canadá. Por iniciativa do orientador, o estágio, inicialmente previsto para durar um ano, estendeu-se por três. Nesse período, Carneiro e Leblond publicaram três trabalhos e participaram de vários congressos. De volta ao Brasil, Carneiro pôs em prática a técnica de radioautografia, que permite rastrear a função celular ao longo do tempo. Trabalhos realizados por Carneiro juntamente com outros pesquisadores foram muito influentes na área de matriz extracelular, principalmente relacionadas à matriz extracelular dos ossos e da membrana periodontal.

Foi professor emérito do ICB-USP, além de ter assumido os cargos de diretor (1976-1982 e 1993-1997) e vice-diretor (1974-1976) no Instituto.

Faleceu no dia 22 de agosto de 2015, aos 86 anos de idade.

 

Luiz Carlos Uchôa Junqueira

Formado em Medicina na USP em 1946. Realizou doutorado na Universidade de Buenos Aires (Argentina) e pós-doutorado na Fundação Rockefeller (EUA). Na FM-USP, criou o Laboratório de Fisiologia Celular, que na época produziu pesquisas bastante avançadas. Durante sua carreira científica, publicou muitos artigos em várias áreas de Biologia Celular e Histologia.

Desde cedo demonstrou grande interesse pela didática, tendo sido o primeiro presidente da Fundação Carlos Chagas, instituição dedicada à realização de concursos, vestibulares, avaliação de sistemas e pesquisas socioeducativas. Foi vice-presidente do IBECC-FUNBEC, que buscava aperfeiçoar o ensino de ciências no ensino básico. Em 1980, fundou a Sociedade Brasileira de Biologia Celular.

Foi professor emérito da Faculdade de Medicina e do Instituto de Ciências Biomédicas da USP e autor de seis livros didáticos.

Faleceu no dia 6 de outubro de 2006, aos 86 anos de idade.

Bruna Anielle | ICB-USP